Título: Exportação agrícola se diversifica
Autor: Eduardo Magossi
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2005, Agronegócios, p. B16

Não foram apenas o volume e a receita das exportações de produtos agropecuários que aumentaram de forma expressiva nos últimos anos. O Brasil conseguiu, em dez anos, ampliar em quase 30% o número de produtos que compõe sua pauta de exportação do setor, livrando-se do rótulo de país monocultor. Além dos tradicionais café, açúcar e suco de laranja, o País consolidou sua posição como um dos principais exportadores de soja e conquistou recentemente a liderança na exportação mundial de carne bovina e de frango. Também começou a exportar milho e trigo, commodities que faziam parte da pauta de importação há menos de uma década. O coordenador-geral de apoio à comercialização da Secretaria de Produção e Comercialização do Ministério da Agricultura, Eliezer de Lima Lopes, diz que a grande diversificação da pauta brasileira mostra que o setor agropecuário nacional está preparado para atender à demanda externa. "O agronegócio nacional mostrou que tem capacidade de resposta rápida aos preços e condições ditados pelo mercado internacional."

"Além do aspecto quantitativo, destaca-se também a questão da qualidade, essencial para a diversificação e conquista de mercados", diz Amaryllis Romano, analista da Tendências Consultoria. Segundo ela, em 2004, o saldo da balança comercial agropecuária ficou em torno de US$ 39 bilhões, sendo o complexo soja responsável por US$ 10,24 bilhões. "Para 2005, as estimativas iniciais apontam para um saldo um pouco maior, de US$ 39,8 bilhões, mas a participação da soja cai para US$ 8,50 bilhões, o que revela os efeitos desta diversificação." Para a analista, a diversificação permite que os efeitos cíclicos de preços que as commodities atravessam, decorrentes da variação de oferta e demanda mundiais, não afetem o saldo da balança.

Entre estes novos produtos que estão sendo exportados estão o milho e o trigo. As exportações de milho saíram de 56,5 mil toneladas em 1994 para 5,07 milhões de toneladas em 2004. No trigo, o Brasil exportou 82 toneladas em 1994 e terminou 2004 com vendas de 1,3 milhão de toneladas. A carne brasileira ganhou o mundo e em 2004 foi responsável por uma receita de US$ 6,15 bilhões, ante US$ 1,3 bilhão em 1994. O volume aumentou de 756 mil toneladas para 4,36 milhões de toneladas no mesmo período.

Também fazem parte da pauta de exportação brasileira hoje o álcool, algodão, mel, pescados, leite e frutas. "O caso das frutas é muito importante para se notar o potencial de exportação do uso da tecnologia pelo produtor brasileiro. Erra quem pensa que tecnologia é utilizada apenas nas grandes plantações extensivas como a soja ou a cana-de-açúcar", explica Amaryllis.

Segundo ela, no caso das frutas, o Brasil tem utilizado novas tecnologias com sucesso. "A parceria entre a tecnologia da Embrapa com os produtores tem mostrado resultados excelentes", diz. Um destes resultados é o da manga. A Embrapa conseguiu adormecer a flor da manga e fazê-la voltar a frutificar em outro período, o que permitiu que o Brasil produza o ano todo e abasteça os mercados quando os fornecedores originais não possuem a fruta.

Nesta semana, a manga brasileira tornou-se o mais novo integrante da pauta das importações japonesas, com o primeiro lote, de 1,5 tonelada, sendo desembarcado em Tóquio. Nas próximas semanas, mais 9 toneladas de manga tipo Tommy deverão estar à disposição dos consumidores japoneses. Até o final do ano, serão 5 mil toneladas da fruta.

Em 2004, apenas as frutas frescas renderam US$ 370 milhões, o equivalente a 850 mil toneladas, praticamente o dobro do registrado em 1999, quando foram embarcadas 435,5 mil toneladas. Incluindo as secas, a receita sobe para US$ 592 milhões. As exportações de frutas se estendem por mamão, uvas, melão, figo e até goiabas e tangerinas.