Título: Rolo compressor do PT reúne 87 dos 90 deputados contra Virgílio
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/01/2005, Nacional, p. A4

Após 20 dias de suspense, e contra a vontade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da cúpula do PT, o deputado Virgílio Guimarães (PT-MG) lançou ontem sua candidatura avulsa à presidência da Câmara. Decidido a enfrentar o candidato oficial do partido, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), ele percebeu ontem mesmo a força do rolo compressor do PT e do Planalto: um manifesto assinado por 87 dos 90 deputados petistas, e dirigido a todos os parlamentares, pede o voto em Greenhalgh. Só não assinaram o próprio Virgílio, Ivo José (MG) e José Boeira (SC). O presidente do PT, José Genoino, e o líder da bancada, Arlindo Chinaglia (SP), divulgaram nota enfatizando que Greenhalgh é o candidato oficial à sucessão de João Paulo Cunha (SP). "O PT tem uma única candidatura, que é a do Greenhalgh. Vamos continuar insistindo para que Virgílio desista", disse Genoino. O Planalto e a cúpula do PT já avisaram que os deputados da base que apoiarem Virgílio perderão suas indicações em cargos do governo.

A direção do PT resolveu não falar em punição até 14 de fevereiro, dia da eleição. "Não vamos discutir punição nem retaliação até lá", disse Paulo Rocha (PA), que deve ser escolhido líder da bancada. "Não discuto punição. A palavra de ordem é diálogo e convencimento", disse Genoino.

Virgílio quis transformar o lançamento da candidatura num grande evento, no plenário 3 da Câmara. Foi muito aplaudido e afirmou no discurso que tem apoio do "novo clero", para fugir à acusação de que é candidato do baixo clero (deputados com pouca visibilidade política). Mas dos 58 deputados de PL, PTB, PDT, PPS, PMDB e PSDB presentes, a maioria era de desconhecidos. O líder do PPS na Câmara, Júlio Delgado (MG), e a tucana Zulaiê Cobra (SP) eram algumas das exceções. "Representamos o novo clero, que é uma geração de parlamentares que respeita os partidos, mas respeita também seus mandatos", explicou Virgílio. "O novo clero desconcerta a tantos que não aceitam outro tratamento e ordem que não os que saíram das urnas. Não estão habituados a discutir politicamente com essa nova geração."

Depois, em entrevista, Virgílio garantiu que sua candidatura tem apoio da maioria da base aliada e disse não temer retaliações. Para ele, sua eleição não põe em risco a governabilidade porque sua candidatura é apoiada pelos partidos aliados.

Na avaliação de Paulo Bernardo (PT-PR), o lançamento foi um fiasco. "Um sinal claro de que Virgílio deve retirar a candidatura porque, para fazer esse enfrentamento com todas as direções partidárias, teria de ter levado pelo menos 100 parlamentares para começar."

PROMESSAS

Ao lançar a candidatura, Virgílio fez propostas inusitadas. Garantiu, por exemplo, que, se for eleito, cada um dos 513 deputados terá um projeto de lei aprovado até 2006. "Não é possível que os deputados não tenham um boa idéia. Nós é que vamos dar trabalho ao governo e ao Lula, que terá de sancionar todos esses projetos."

Também disse não ver problemas no excesso de medidas provisórias editadas por Lula. "Não gosto de reclamar de serviço. Temos de ter a capacidade de resolver problemas, ter um processo para que as MPs sejam votadas rapidamente."

Por fim, ele propôs rever os gastos da Câmara, começando por cortar a água mineral. "Por que tem de gastar tanta água mineral aqui? Se a água de casa é potável por que tem de tomar água mineral na Câmara?"