Título: Lula defende área social e ataca caráter de antecessores
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/01/2005, Nacional, p. A8

Um dia depois de elogiar a política externa de seu governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dedicou-se ontem a defender suas realizações na área social, principal alvo dos adversários. Ao relançar o Projeto Rondon, em Tabatinga, cidade do Amazonas na fronteira do Brasil com a Colômbia e o Peru, disse que, num passado recente, faltou "caráter" e "responsabilidade pública" aos governantes. "O Estado, nesse passado recente, olhou o País como se usasse um binóculo invertido. Distanciou-se do que deveria se aproximar. Perdeu o foco do principal. Renunciou a um projeto de desenvolvimento." Lula comentou que projetos como o Rondon, ProUni e Soldado Cidadão, além da política de microcrédito, não são "respostas avulsas" do governo às demandas sociais, especialmente na região amazônica.

Sem citar nomes, Lula ressaltou que o País perdeu o foco e a auto-estima. "O individualismo triunfante corroeu a auto-estima nacional numa espiral de desigualdade. Palavras como solidariedade, justiça, responsabilidade pública, caráter e bem comum foram relegadas ao dicionário do esquecimento." Mais adiante, acrescentou: "Ter 20 anos no século 21, portanto, significa, entre outras coisas, engajar-se na revisão desse contrato anti-social, ajudando a construir o presente e o futuro. Por entender esse recado da história, apoiamos a proposta da UNE (União Nacional dos Estudantes) e das associações de ex-rondonistas e recriamos um projeto Rondon com a cara do Brasil de hoje".

INVASORES

Momentos antes do discurso, o presidente da UNE, Gustavo Petta, disse que empresas e organizações não-governamentais estrangeiras estão atuando na exploração ilegal de recursos naturais da Amazônia. "Eles (estrangeiros) tiveram a cara de pau de patentear o cupuaçu, fruta símbolo da região", disse. "Não podemos ser ingênuos em relação aos interesses estrangeiros." Lula usou um chapéu de pano presenteado por uma estudante inscrita no Projeto Rondon.

O programa - criado em 1967, na ditadura militar, e extinto em 1989 - levou cerca de 350 mil estudantes universitários aos rincões do País. Na nova versão, o projeto vai priorizar, numa primeira fase, 13 vilarejos da Amazônia.

O presidente disse que espera expandir o projeto para o semi-árido nordestino e as periferias dos grandes centros urbanos. Depois, almoçou com universitários que participam do projeto na 8.º Batalhão de Infantaria de Tabatinga. No local, Lula segurou uma jaguatirica, pôs a mão numa sucuri de quatro metros e olhou de longe uma onça pintada, batizada de Cézar. "Quem vai colocar a mão na onça?", perguntou o presidente aos fotógrafos. Informado que muitos já o tinham feito, fez expressão de espanto.

EMBAIXADINHA

A viagem ao Amazonas foi a primeira oficial do novo avião da Presidência. Lula despachou no escritório do Airbus com ministros e assessores.

Ele foi recebido em Tabatinga por cerca de 300 pessoas e chegou a fazer embaixadinhas com a bola de um garoto. "Eu vou te mostrar como se faz", disse o presidente. Em seguida, a bola bateu no flash de um fotógrafo, quebrando o equipamento.