Título: No juramento, Bush vai rebater críticas e anunciar reforma ambiciosa
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/01/2005, Internacional, p. A14

O presidente George W. Bush, que chegou à Casa Branca quatro anos atrás depois de vencer na Justiça a eleição mais controvertida da história dos Estados Unidos, inicia hoje o seu segundo mandato legitimado pela maior votação que um líder americano já recebeu nas urnas, mas sem um mandato claro e diante de uma forte desaprovação de sua política no Iraque, segundo uma pesquisa de opinião do Washington Post e da rede de televisão ABC. Como manda a 20.ª emenda da Constituição americana, que em 1933 mudou a data da posse do presidente e do vice-presidente de março para janeiro, ao meio-dia Bush fará o juramento de lealdade à Constituição, repetindo as 35 palavras ditas pelo presidente da Suprema Corte, William Rehnquist, de 80 anos, que confirmou sua presença no ritual, apesar de estar fazendo tratamento de quimioterapia para um câncer da tiróide.

Em seguida, Bush fará um discurso no qual procurará responder à crescente oposição dos americanos à guerra do Iraque e ao ceticismo do país sobre seu projeto de democratização do Oriente Médio, e anunciará uma agenda de reformas domésticas tão ambiciosa que já gera resistência dentro do próprio Partido Republicano.

O frio intenso que faz em Washington desde o início da semana e a neve que começou a cair ontem e deve continuar hoje deixava em aberto a possibilidade de a elaborada cerimônia ser transferida do monumental palanque armado na fachada oeste da sede do Congresso, dominando a majestosa esplanada dos museus e monumentos da capital americana, para a rotunda do Capitólio, como aconteceu em 1984, na inauguração do segundo governo do presidente Ronald Reagan.

Esta alternativa, que incluiria o cancelamento da parada triunfal entre o Capitólio e a Casa Branca, seria, certamente, a preferida pelos responsáveis pelo gigantesco esquema de segurança montada para a primeira inauguração presidencial desde os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Nada menos de seis mil policiais e sete mil soldados foram mobilizados para proteger os cerca de três mil convidados que assistirão às cerimônias oficiais, participarão de cafés da manhã, almoços e jantares paralelos e dos nove bailes oficiais de gala programados para hoje à noite (ler abaixo).

Desde ontem à tarde o acesso a uma área de aproximadamente cem quarteirões na parte central de Washington está bloqueada ou fortemente restrita por altas barreiras metálicas, que deram a cidade mais um aspecto de praça de guerra do que de uma capital em festa. O frio deve reduzir o ânimo para os poucos protestos programados, um deles no caminho do desfile planejado.

Décimo sexto dos 43 homens que ocuparam a Casa Branca a receber um segundo mandato, Bush marcará a instalação de seu novo governo com a mais dispendiosa festa de posse a que o país já assistiu. A necessidade de agradecer aos doadores dos US$ 40 milhões de fundos privados levantados para custear a extravagância - nesta conta não estão incluídos os US$ 12 milhões em pagamento de horas extras para policiais e outras despesas, com os quais a prefeitura de Washington terá de arcar - levaram Bush a combinar ontem atividades de grande simbolismo político com outras mais prosaicas.

Pela manhã, acompanhado pela primeira dama, Laura Bush, o presidente visitou o saguão principal do Arquivos Nacionais, o templo cívico do país, onde estão expostos uma das 13 cópias originais da Declaração da Independência e da Constituição, com suas dez primeiras emendas, que consagraram os direitos dos cidadãos, bem como o texto original do discurso de posse do primeiro presidente, George Washington, em 1789. No fim da tarde, Bush e a mulher iriam a vários "jantares à luz de vela" com republicanos que doaram de US$ 100 mil a US$ 250 mil para a posse.