Título: Brasil prevê mais espaço para acordos
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/01/2005, Internacional, p. A16

Em seu segundo mandato, George W. Bush está em situação bem mais confortável para negociar e fechar acordos comerciais que no período anterior. Em especial, em relação a seu antigo objetivo de formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). A avaliação é do embaixador do Brasil em Washington, Roberto Abdenour, que observou ainda dois fatores relevantes nesse mesmo cenário - os segmentos políticos favoráveis ao comércio nos EUA tornaram-se mais fortes nos últimos meses e o Executivo aumentou seu cacife ao obter maioria nas duas casas do Congresso. De acordo com Abdenour, a Representação dos Estados Unidos para o Comércio (USTR) tem entre seus planos a conclusão dos acordos de livre comércio com Equador, Colômbia e Peru ainda neste trimestre, bem como o relançamento da Alca. Isso trará um desafio adicional ao Brasil, que acabou favorecido pelo diluído interesse de Washington nessas negociações em 2004. Para o embaixador, a transferência de Robert Zoellick do comando do USTR para o segundo posto do Departamento de Estado deve aumentar o respaldo político de Bush nas discussões da Alca e da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC).

"Uma vez no Departamento de Estado, Zoellick imprimirá ao corpo político da administração o mesmo impulso às negociações comerciais que antes ele dava no USTR. Zoellick será muito forte e trará sua bagagem de negociador comercial", afirmou Abdenour na semana passada, quando esteve em Brasília para encontros com ministros e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "No USTR, quem quer que o substitua vai pegar a bola e continuar o jogo, sem mudanças nas orientações", completou.

As relações entre Brasil e EUA, entretanto, não se resumem às negociações comerciais. Ao cumprimentar Bush por sua reeleição, o presidente Lula registrou sua impressão de que as relações bilaterais estão se desenrolando de forma "notável", com base em um "vívido e fluido diálogo" no plano bilateral e sobre questões internacionais.

De acordo com Abdenour, o segundo mandato de Bush dará plena continuidade às boas relações com o Brasil e ao contato afável entre os dois presidentes, de linhas políticas opostas, que se manifestou desde o primeiro encontro entre ambos, em dezembro de 2002. Essa percepção foi reforçada anteontem pelas surpreendentes declarações da futura secretária de Estado, Condoleezza Rice, no Senado americano, segundo as quais o diálogo bilateral com o Brasil é "uma relação-chave" para o governo Bush e "extremamente crítica para a região".