Título: Condoleezza admite 'más decisões' no Iraque
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/01/2005, Internacional, p. A20

A Comissão de Relações Exteriores do Senado dos EUA aprovou ontem a nomeação de Condoleezza Rice como secretária de Estado do segundo mandato do presidente George W. Bush, no mesmo dia em que ela reconheceu que Washington "tomou algumas más decisões" em relação ao Iraque. Ao longo de toda a audiência de confirmação, os senadores democratas se mostraram muito críticos com a atual conselheira de Segurança Nacional da Casa Branca, em particular com sua atuação e a do governo na guerra e na reconstrução do Iraque, e ontem alguns deles disseram que, apesar da aprovação da comissão, pretendem adiar a confirmação oficial de Condoleezza como secretária de Estado até a semana que vem. "Tomamos muitas decisões num curto período de tempo. Algumas foram boas, outras não foram tão boas. Tenho certeza de que algumas foram equivocadas", declarou Condoleezza, que antes de ser nomeada para o Departamento de Estado ocupava o cargo de conselheira de Segurança Nacional da Casa Branca. "Não tínhamos a capacidade adequada, a aptidão adequada, para fazer frente a um esforço de reconstrução desta magnitude." Nos dois dias de audiência, ela se recusou a falar sobre quando as tropas americanas poderão deixar o Iraque. Há cerca de 150 mil soldados dos EUA no país.

Condoleezza, que se tornará a primeira mulher negra a ocupar a chefia da diplomacia americana, reconheceu implicitamente os erros no Iraque depois de ser pressionada pelos senadores democratas da comissão a admitir que tinha "enganado o povo americano ao apresentar as razões para a invasão do Iraque". Como justificativa para lançar a guerra, os "falcões" da Casa Branca - incluindo Condoleezza - alegaram que o regime de Saddam Hussein mantinha armas de destruição em massa e vínculos com a rede terrorista Al-Qaeda. Essas armas nunca foram encontradas e a ligação entre Saddam e a organização de Osama bin Laden nunca foi provada.

No fim, a comissão acabou aprovando a nomeação de Condoleezza por 16 votos a 2. Apenas votaram contra Condoleezza os senadores democratas John Kerry - candidato presidencial derrotado por Bush na eleição de novembro - e Barbara Boxer. Como já havia declarado o voto durante a audiência, o líder democrata na comissão, Joseph Biden, votou a favor da nomeação. Biden, porém, disse que o fazia "com algumas reservas e certa frustração".

A nomeação de Condoleezza será apresentada agora ao plenário do Senado - que, caso fracasse a tentativa democrata de adiamento, deve votar hoje a matéria, após a cerimônia de posse do presidente Bush. Depois, a votação será encaminhada à Câmara. Não se espera dificuldade para que o plenário das duas Casas - ambas controladas pelos republicanos - ratifique a decisão da comissão.

Nos dois dias de audiência, Condoleezza apontou Cuba, Mianmá, Coréia do Norte, Irã, Zimbábue e Bielo-Rússia como "postos avançados da opressão". Também fez duras críticas ao presidente venezuelano, Hugo Chávez e descreveu o diálogo EUA- Brasil como "relação-chave" na América Latina.