Título: 'Inflação atual vem de preços administrados'
Autor: Gustavo Freire, Priscilla Murphy, Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/01/2005, Economia, p. B3

O aumento do juro básico não combate a principal causa da inflação, que são os reajustes de preços administrados, diz Rogério Mori, coordenador e professor do Centro de Macroeconomia Aplicada (Cemap) da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. A perspectiva de inflação para 2005 já começa com a herança de um IGP alto em 2004, causado pelo efeito do aquecimento econômico mundial sobre os preços das matérias-primas. "Mas se os juros não fossem elevados, a inflação seria muito maior." A alternativa para essa política monetária seria apertar a política fiscal, cortando gastos públicos para reprimir a demanda, o que não foi feito em 2004. Estado - Adianta aumentar os juros para combater uma inflação causada pelo aumento dos preços administrados?

Rogério Mori - A inflação de preços administrados é causada principalmente pelos contratos de serviços públicos referenciados pelo IGP, que é um índice procíclico. Ela veio de preços no atacado, cuja origem é o aquecimento global. Preços industriais subiram muito por causa de aumentos brutais de matérias-primas como o aço, apesar de o câmbio estar em queda. Essa origem de inflação a taxa de juros não combate. Mas se o Banco Central não elevasse os juros, certamente teríamos uma inflação maior.

Estado - Há alternativa?

Mori - A alternativa que se discute é o corte de gastos públicos para suprimir a demanda, ou seja, usar a política fiscal, além da política monetária. Com a arrecadação registrada no ano passado, o BC poderia ter feito um superávit primário maior. Sem a alternativa da política fiscal, a inflação sempre acaba punindo a demanda por meio da política monetária.

Estado - O sr. vê ambiente político para discutir corte de gastos públicos, a flexibilização do orçamento?

Mori - Corte de gastos não se discute, se faz. Mesmo sem haver uma discussão no Legislativo, há uma série de cortes em gastos correntes que já é possível fazer na área gerencial. Além disso, com a arrecadação extra, o governo poderia ter feito um superávit fiscal mais arrojado em 2004 e poderia manter a meta de 4,5% este ano. Aí poderia ter um pouco mais de espaço para evitar altas tão recorrentes da taxa de juro. Mas isso não foi feito e acaba recaindo tudo sobre a política monetária.