Título: BC faz o esperado e juro vai a 18,25%
Autor: Gustavo Freire, Priscilla Murphy, Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/01/2005, Economia, p. B3

O Banco Central aumentou ontem os juros básicos pela quinta vez consecutiva, em 0,5 ponto porcentual, para 18,25% ao ano. Ao divulgar o resultado, os membros do Comitê de Política Monetária repetiram a breve explicação dada nos últimos dois encontros: "Dando prosseguimento ao processo de ajuste da taxa de juros básica iniciada na reunião de setembro de 2004, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 18,25% ao ano, sem viés." Apesar de ser amplamente previsto no mercado financeiro o aumento de 0,5 ponto porcentual, a unanimidade da decisão surpreendeu um pouco os analistas e reforçou as apostas em novas elevações da taxa Selic nos próximos meses. "A unanimidade mostra que ninguém teve uma fração de dúvida do que deveria ser feito", diz Jorge Simino, sócio da MS Consult. "Ninguém votou po rum aumento de 0,25 ponto porcentual." Por isso, o consultor ainda prevê novos aumentos de juros. "A segunda discussão é sobre se será um aumento da mesma magnitude, ou a política passará para um ajuste fino de 0,25 ponto. Para responder a essa pergunta com um pouco mais de segurança, só vendo o que virá escrito na ata do Copom." A ata da reunião dos últimos dois dias, com explicações mais detalhadas dos motivos da decisão do Copom, só sai na quinta-feira da semana que vem.

Já para o ex-diretor de política monetária do Banco Central e economista do Ibmec, Carlos Thadeu de Freitas, o Copom poderá manter a taxa inalterada a partir de fevereiro, iniciando uma trajetória de queda a partir de junho. Segundo ele, é possível que não ocorram novos aumentos nos próximos meses, mas a queda só poderá ocorrer antes do final do primeiro semestre se o BC reconhecer, o mais rapidamente possível, que não será possível cumprir a meta definida de 5,1% de IPCA para 2005. "A inflação de 2005 está muito mais para 6% do que para 5%."

O economista argumenta que o IPCA do terceiro trimestre já deverá acumular uma alta de 2%, ou quase 40% da meta. Ele explicou que essa alta já está dada com os impactos do reajuste de metrô e trens de São Paulo em janeiro, da educação em fevereiro e da própria tendência altista da inflação confirmada pelo IPCA de dezembro, que veio acima do esperado pelos analistas de mercado.

Outros participantes do mercado vêem na atuação do BC o objetivo de conter as expectativas de inflação. Para a Federação Nacional das Empresas de Crédito, Financiamento e Investimento (Fenacrefi), o Copom age com extrema psicologia a cada mês. "Não creio que fosse preciso esse novo aumento dos juros se analisássemos a questão apenas tecnicamente", disse o vice-presidente da entidade, José Arthur Assunção, em nota distribuída ontem após o anúncio do aumento dos juros. "Mas a luta é contra algo que ainda está muito arraigado dentro de cada um de nós, a inflação. E contra ela não pode haver trégua".

O Copom, na verdade, está combatendo um fato que ainda não aconteceu, a inflação de demanda, lembrou o economista-chefe do ABN Asset Management, Hugo Penteado, esta semana. "Se o BC esperar a inflação de demanda se manifestar, ele terá de aumentar os juros muito mais do que está fazendo agora."

Como sempre ocorre quando os juros sobem, os bancos não confirmam quando repassarão a taxa básica para o custo final do crédito. As assessorias dos bancos Bradesco, ABN Amro e Santander afirmaram que as instituições não têm previsão de aumento em suas taxas.