Título: Tudo dentro do previsto. Até a crítica
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/01/2005, Economia, p. B4

Apesar de esperada, a quinta elevação consecutiva da taxa básica de juro foi duramente criticada tanto por empresários como por sindicalistas. A continuidade da política monetária apertada é considerada desnecessária e tida como um obstáculo à recuperação do ritmo de atividade. "Seguramente, isso vai afetar a atividade econômica imediatamente, o que é lamentável", diz o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto. Ele prevê a desaceleração do ritmo de atividade neste primeiro trimestre. Monteiro Neto acredita que o crescimento em 2005 será menor do que as estimativas iniciais de 3,5% a 4%.

Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, o Copom perdeu a oportunidade de resgatar o ânimo nacional abalado pela MP 232, que aumentou a base de contribuição tributária das empresas prestadoras de serviços. Ele diz que os sucessivos aumentos da Selic em 2004 começarão a produzir efeitos negativos mais fortes a partir deste ano.

Já o diretor do Departamento de Economia do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Boris Tabacof, ressalta que a entidade não quer apenas criticar, e pretende propor ao governo que encontre uma alternativa viável para balancear metas de inflação realistas com os investimentos.

O presidente da General Motors do Brasil, Ray Young, destaca que mais que o índice de 0,5 ponto porcentual, a nova alta do juro provoca efeito psicológico entre os consumidores, que se afastam das lojas. "Isso me preocupa muito, pois nossos negócios dependem de financiamento", disse. Cerca de 70% das vendas de veículos são financiadas.

"Se o governo mantiver a política de juros elevados por mais tempo, é evidente que vai afetar o crédito para o consumidor", concorda Érico Sodré Quirino Ferreira, presidente da Acrefi, que reúne as financeiras. Ele tem motivos para temer uma desaceleração do consumo: dezembro de 2004 foi o melhor mês em dez anos para o financiamento de veículos.

A Federação do Comércio do Estado de São Paulo afirma que a decisão do Copom não se justifica de forma alguma, e compromete ainda mais o ritmo de crescimento, num momento em que já é bem mais lento. "O Brasil precisa deixar a posição de campeão mundial em juros altos para poder ganhar destaque entre os países que têm maior crescimento. Pelo que temos visto, ao longo dos últimos anos, as duas situações são incompatíveis", diz Abram Szajman, presidente da entidade.

Para o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Luiz Marinho, o Copom "jogou um balde de água fria em todos aqueles que há muito desejam que o Brasil tenha um desenvolvimento econômico vigoroso, de longo prazo, com distribuição de renda e inclusão social".

Na avaliação do presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o governo deu um presente aos especuladores e puniu o setor produtivo e a geração de empregos.

"A receita extremamente conservadora do Banco Central coloca uma trava para o crescimento sustentável, o aumento da produção, do consumo e dos postos de trabalho", diz ele.