Título: Taxa real de 11,9% é a maior do mundo
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/01/2005, Economia, p. B4

O Brasil assumiu a liderança do ranking mundial de juros reais. Com a alta de 0,5 ponto porcentual na taxa básica Selic ontem, o Brasil tem agora a maior taxa de juros real (descontada a inflação) do mundo, de 11,9%. Antes, o líder do ranking era a Turquia, com juros reais de 9%. O índice é compilado pela consultoria GRC Visão, levando em conta a taxa de juros nominal de 40 países, menos a expectativa de inflação para os próximos 12 meses em cada país. A Turquia reduziu sua taxa de juros nominal de 42,9% para 19,1% e conseguiu baixar sua inflação de 30% para 9,3% desde abril de 2003. Já o Brasil reduziu os juros de forma mais lenta no período - eram 26,5%, caíram para 16% em abril de 2004, para depois voltarem a subir em setembro, chegando aos atuais 18,25%. Nesse meio tempo, a inflação caiu de 16,8% para 5,7% (IPCA projetado). "A Turquia conseguiu reduzir os juros mais rapidamente e teve uma queda da inflação em maior magnitude do que o Brasil", diz Alex Agostini, economista da GRC Visão. "Na hora de elevar os juros, o Banco Central dá uma paulada, mas, para reduzir as taxas, vai muito devagar."

O Brasil poderia seguir o exemplo turco? A receita da Turquia para reduzir os juros rapidamente foi um forte aperto fiscal, aliado a reformas estruturais e concessão de independência para o Banco Central.

No ano passado, o país atingiu um superávit primário de 6%; comprometeu-se com um superávit de 6,5% por ano nos próximos três anos. Em 2004, o PIB turco cresceu 7% (diante de estimativa de 5,1% para o Brasil). E, pela primeira vez em 30 anos, os turcos terão taxa de inflação de um dígito.

Para Donald Johnston, secretário-geral da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a recuperação econômica da Turquia tem sido "espetacular". O país esteve à beira do colapso em 2000. Tinha inflação anual na casa dos 70%, alto endividamento e grande déficit em conta corrente.

Mesmo assim, a Turquia tem grandes fragilidades. A dívida do governo corresponde a 80% do PIB (diante de 51% do Brasil) e o investimento estrangeiro direto raramente ultrapassa US$ 1 bilhão por ano.