Título: Vale vai investir US$ 13 bi até 2010
Autor: Mônica Ciarelli
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/01/2005, Economia, p. B13

O aumento da demanda por minério-de-ferro no mercado mundial levou a Companhia Vale do Rio Doce a elevar sua previsão de investimentos. Os valores passam de US$ 8,5 bilhões (entre 2004 e 2010) para US$ 13 bilhões (entre 2005 e 2010), o equivalente a cerca de R$ 40 bilhões, considerando-se um câmbio de R$ 3 por US$ 1. Desse total, R$ 10,8 bilhões devem ser aplicados já neste ano, para antecipar investimentos que só seriam realizados a partir de 2008, principalmente em logística e na produção de minério-de-ferro. Para a área de minério-de-ferro, serão destinados este ano R$ 4,089 bilhões. "Há alguns anos não poderíamos prever que a demanda aumentasse tanto. Não queremos que os clientes de longo prazo tenham falta do produto", disse o presidente da Vale, Roger Agnelli. Nos últimos quatro anos, a taxa média de crescimento da produção de minério-de-ferro foi de 15,6%, pulando de 133,8 milhões de toneladas em 2001 para 206,6 milhões de toneladas no ano passado.

Já a área de logística da empresa tem um orçamento estimado para este ano de R$ 2,455 bilhões. "A compra de vagões, por exemplo, não estava nos planos da Vale para essa década", disse Agnelli. Com a antecipação dos investimentos, a empresa anunciou que irá comprar até 2007 cerca de 10 mil vagões. A mineradora vai gastar apenas este ano R$ 1,8 bilhão para a compra de 5,6 mil vagões e 123 locomotivas.

Agnelli acredita que o País precisa se unir para evitar que os gargalos de logística atrapalhem o ritmo de crescimento da economia nacional. A empresa também pretende investir na logística de exportações, como, por exemplo, em terminais marítimos.

PARCERIAS

Os projetos da Vale em parceria com empresas estrangeiras vão atrair para o Brasil US$ 8,9 bilhões (cerca de R$ 24 bilhões) em investimento direto estrangeiro ao longo dos próximos cinco anos. Roger Agnelli calcula que as parcerias com estrangeiros vão incrementar as exportações da mineradora em mais US$ 4,5 bilhões por ano.

Ele citou como exemplos a siderúrgica que a empresa irá construir em conjunto com a alemã ThyssenKrupp Stahl, próximo ao Porto de Sepetiba, no Rio de Janeiro. Outro projeto lembrado pelo executivo foi a refinaria ABC, com a Chalco. Mas a lista de parceiros inclui ainda outras gigantes da siderurgia, como a européia Arcelor, a chinesa Baosteel e a coreana Posco.

Segundo Agnelli, os ambiciosos planos da Vale têm contribuído para atrair mais grupos estrangeiros para o Brasil. O executivo destaca que a mineradora atua hoje como uma promotora de investimentos, atraindo seus clientes para entrar em projetos siderúrgicos no País.

O presidente da empresa acredita que as negociações com as siderúrgicas internacionais em torno do preço do minério-de-ferro este ano vão refletir a situação atual de forte aquecimento do setor. Ele lembrou que os produtos siderúrgicos tiveram um reajuste próximo a 100% em dólar no ano passado em função da forte demanda. "A tendência natural é de aumento de preços", disse Agnelli, sem fixar uma data para o fim das negociações.

PARECER

O presidente da Vale admitiu que o parecer da Secretaria de Direito Econômico (SDE) recomendando restrições às compras de mineradoras feitas entre 2000 e 2001 pode criar problemas para a empresa no futuro. Ele considerou o relatório inconsistente em vários pontos e afirmou que alguns dos argumentos apresentados pela empresa não foram considerados.

Entre as inconsistências, o executivo citou a recomendação, feita pela SDE, para que a Vale transforme em subsidiária a Estrada de Ferro Vitória-Minas, empresa cujo capital é integralmente da mineradora brasileira.

A secretaria argumenta que esta seria uma forma de descentralizar o setor e tornar as operações da ferrovia mais transparentes. Agnelli rebate o documento. Segundo ele, a Vale já apresenta mensalmente ao governo um balanço separado das atividades da Vitória-Minas. "O assunto está sendo debatido nos fóruns adequados. A decisão final é do Cade."