Título: Situação de caos no Entorno de Brasília inclui dívidas e postos de saúde fechados
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/01/2005, Nacional, p. A4

Salários atrasados, contas a pagar, centros de saúde fechados, escolas aos cacarecos, falhas na segurança pública e falta de saneamento básico são alguns dos problemas que os prefeitos das proximidades de Brasília encontraram assim que tomaram posse. A região, conhecida por Entorno de Brasília (19 cidades em Goiás e três em Minas Gerais), possui cerca de 2 milhões de habitantes. Como tem deficiência em todas as áreas, sobrecarrega os serviços públicos de Brasília, sobretudo na área da saúde e alimenta o aumento do trabalho informal, do transporte pirata e da violência. Águas Lindas é a maior de todas as cidades próximas a Brasília. É também, de longe, a mais caótica. É cortada pela pista esburacada e de mão dupla da BR-070 por 14 quilômetros. Não tem projeto urbanístico nem rede de água tratada ou de esgoto. Uma placa patrocinada por uma empresa de transportes a saúda: "Parabéns, Águas Lindas, a cidade que mais cresce na América do Sul". Não há dados oficiais sobre essa afirmação, mas ela pode ser deduzida. Em 1994 não existia nem traço da cidade - apenas um posto de gasolina na via que leva à cidade histórica de Pirenópolis. Em dez anos, do início da construção das primeiras casas na vizinhança do posto aos dias atuais, sua população chegou a 140 mil habitantes. "É o maior problema do meu Estado", costuma dizer o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Águas Lindas fica a 50 quilômetros de Brasília. Algumas de suas construções ocupam as margens da Represa do Descoberto, de onde saem 70% das águas que abastecem a capital do País. José Pereira (PFL), o prefeito da cidade, tem uma missão difícil pela frente. Os salários dos 1,4 mil funcionários estão atrasados há três meses. Do 13.º, nem notícia. E não tem nem de quem cobrar a situação herdada, porque o prefeito anterior - José Zito (PSDB) - foi afastado do cargo pelo governador, por corrupção. Recuperou o posto na Justiça, provisoriamente, e o perdeu, definitivamente, quando o mérito da ação por improbidade administrativa foi julgado. O município deve R$ 8 milhões ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Com isso, está com a ficha suja junto à União. Outros 46 protestos de credores públicos e privados impedem o município de ter até talão de cheques. Em Valparaíso, outra cidade que nasceu e cresceu por causa de Brasília, o prefeito José Valdécio Silveira (PTB) ainda procura descobrir quem tentou matá-lo durante a campanha eleitoral. Ele levou cinco tiros, escapou e pôde concorrer à eleição. Lá, como nas outras cidades, os leitos hospitalares são insuficientes e as escolas poucas, aos pedaços. Sua assessoria diz que há um ano pelo menos falta merenda escolar.