Título: Virgílio do PT desafia Greenhalgh
Autor: Denise Madue
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/01/2005, Nacional, p. A6

Pré-candidato derrotado na bancada do PT, o deputado Virgílio Guimarães (MG) está em campanha aberta para disputar a presidência da Câmara com o candidato oficial do partido, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), e com isso pode criar uma séria crise no PT. Ontem, Virgílio fez corpo-a-corpo, conversando com os suplentes que tomaram posse nas vagas deixadas pelos deputados que assumiram mandatos de prefeito no dia 1.º. Numa das solenidades ele até fez discurso de boas-vindas. Em outra ocasião, numa roda de deputados que acabaram de assumir seus mandatos, Virgílio defendeu a legitimidade da disputa avulsa no plenário.

"A presidência da Câmara tem de ser vista sob uma ótica mais ampla do que a dos acertos internos ou facções", pregou Virgílio na conversa com Walter Barelli (PSDB-SP), Jair de Oliveira (PDT-ES), Marco Maia (PT-RS) e Ademir Camilo (PPS-MG), na sala da diretoria da Câmara, onde foi à procura dos novos deputados. "O instituto da candidatura avulsa é republicano, é democrático, é essencial", acrescentou. "O PT sempre foi o maior defensor da tese. "Se o PT defende, não é para ser aplicado só pelos outros."

ATÉ CARTÕES

Ainda em campanha, Virgílio anunciou ao deputado Carlos Nader (PL-RJ), que o acompanhou durante o corpo-a-corpo, que havia conseguido a liberação de R$ 5 milhões para a Estrada Oscar Niemeyer, uma reivindicação da bancada do Rio de Janeiro. O petista disse a Jair Oliveira que sempre divide as emendas parlamentares com o Espírito Santo. "São Estados irmãos", argumentou.

Virgílio ainda distribuiu cartões com seu número de celular para os empossados e fez brincadeiras com Barelli, que foi diretor do Dieese no mesmo período em que ele era o coordenador do instituto em Minas Gerais. "Vai ser um grande presidente da Câmara", disse Barelli, abraçando o colega.

O petista não reconhece que houve um acerto na bancada, como afirma o presidente do partido, José Genoino, no qual o deputado escolhido, entre os sete que disputavam a vaga, acatariam a decisão e não haveria candidatura avulsa no plenário de outro candidato do partido. "Se teve esse pacto, não foi comigo. Se teve isso, esqueceram de me avisar", insistiu Virgílio. "Candidatura avulsa é da regra do jogo. Nunca me falaram que era proibido candidatura avulsa", completou.

DA DISPUTA

Em São Paulo, Genoino defendeu a candidatura de Greenhalgh e fez pouco das resistências a seu nome, que existem até entre petistas. "Isso é fogo da disputa", assegurou, sem citar Virgílio. "A bancada aprovou o nome de Greenhalgh e está compromissada com ele."

Questionado por jornalistas, que lhe perguntaram se vai mesmo lançar seu nome para disputar a presidência da Casa, Virgílio afirmou: "Por enquanto, não." Caso enfrente a eleição, sua candidatura avulsa deve ser aceita pelo presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP).

Para quem mostrava surpresa com sua presença em Brasília ontem, uma segunda-feira no recesso, Virgílio disse que estava tratando de liberação de emenda nos ministérios. "Todo ano eu fico aqui, correndo atrás de recursos. Sou coordenador da bancada de Minas Gerais", explicou.

O deputado João Caldas (PL-AL), que é quarto suplente da Mesa Diretora da Câmara e empossou os deputados ontem, acompanhou o dia de campanha de Virgílio. Ele é um defensores da candidatura do petista mineiro. "Conhecemos o perfil dele. Ninguém terá surpresas com Virgílio", resumiu Caldas. Para ele, o petista levará sua candidatura ao plenário. "Não sei se alguém nega a presidência da Câmara com ela na mão", afirmou.