Título: Revés na Câmara deixa PSDB em alerta
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/01/2005, Nacional, p. A4

A reviravolta na eleição da presidência da Câmara Municipal colocou o PSDB em estado de alerta. Cresce na Assembléia Legislativa a movimentação para eleger um presidente, em 15 de março, que não tenha alinhamento direto com o governador Geraldo Alckmin. Os tucanos não acreditam que a escolha de Roberto Tripoli (PSDB) na Câmara - lançado pelo grupo de oposição ao prefeito José Serra - irá influenciar a eleição do presidente da Assembléia, mas trabalham para unificar o partido e costurar apoios fora do PSDB. "Não dá para desprezar o que aconteceu. O episódio sugere mais cuidado do partido", avalia o líder do governo na Casa, Vanderlei Macris (PSDB). "Mas é claro que os cenários na Câmara e na Assembléia são diferentes. Alckmin tem maioria mais firme."

Dois candidatos disputam hoje a indicação da bancada tucana na Casa para chegar à presidência: os deputados Vaz de Lima, líder do PSDB, e o presidente municipal da legenda, Edson Aparecido. Um terceiro deputado tem se mostrado interessado em entrar no páreo, Celino Cardoso. Aparecido é apontado como favorito por contar com o provável apoio do governador Geraldo Alckmin, mas enfrenta resistência na bancada e não tem a simpatia de alguns integrantes da base aliada. Vaz de Lima, com três mandatos, teria melhor trânsito em ambas as frentes.

Alckmin ainda não entrou em campo, de fato, para influenciar a escolha. "Ele vai se envolver no momento adequado, mas principalmente para garantir o apoio de outros partidos ao candidato do PSDB", afirmou um interlocutor do governador. "A bancada tem hoje dois candidatos, talvez um terceiro, mas isso não significa que exista um racha", completou ele. Os deputados tucanos deverão escolher seu candidato no mês que vem.

O grupo formado na Assembléia pelas bancadas do PDT, PSB e PV, com dez deputados, pretende lançar ou apoiar um candidato independente do Palácio dos Bandeirantes. Na busca de alternativas, já procurou o deputado Ricardo Tripoli (PSDB), ex-presidente da Casa e irmão do vereador eleito presidente da Câmara no sábado. Seu nome tem a simpatia até do PT. "O mandato de deputado estadual está muito esvaziado e queremos valorizá-lo. Para isso, é fundamental a independência entre os poderes", argumenta Geraldo Vinholi, líder do PDT e do grupo, sem citar nomes. Tripoli negou qualquer movimentação nesse sentido.

O PT quer aproveitar os dissidentes da base aliada ao governo e encorpar o movimento por um presidente independente. Para isso, abre mão até de indicar um candidato próprio, mesmo sendo a maior bancada. "É preciso que o Legislativo seja autônomo, tenha voz própria e não seja a extensão do Executivo", afirmou o líder da legenda, deputado Cândido Vaccarezza. Entre os nomes analisados pelo PT, estão o de Romeu Tuma Jr. (PPS), Arthur Alves Pinto (PL) e Jorge Caruso, líder do PMDB. Tripoli também tem a simpatia de alguns petistas.

Os petistas também articulam para manter o segundo cargo mais importante da mesa diretora da Assembléia, a primeira secretaria, mesmo que para isso acabe por compor com o PSDB.

PROPORCIONALIDADE

O presidente nacional do PT, José Genoino, começa a procurar hoje as lideranças políticas dos demais partidos para propor a criação "do pacto da proporcionalidade". Ou seja, o partido que elege a maior bancada teria o direito de presidir o Legislativo. O objetivo principal é garantir a eleição do candidato petista Luiz Eduardo Greenhalgh à presidência da Câmara dos Deputados, em Brasília. "Precisamos superar os acontecimentos recentes e olhar para frente", afirmou Genoino.

O presidente do PT defendeu a união dos partidos para que o pacto da proporcionalidade seja colocado nos regimentos dos legislativos em todo o País. "É preciso ter uma mesa pluralista e proporcional", afirmou, referindo-se aos demais cargos que compõem o comando dos parlamentos.