Título: Relator ironiza decisão do governo de dar prioridade à reforma política
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/01/2005, Nacional, p. A6

O líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP), incluiu a reforma política na lista dos projetos prioritários para o Planalto para 2005, mas não convenceu a oposição. Embora o líder tenha afirmado que "não há mais como adiar" a mudança, o relator da reforma na comissão especial, deputado Ronaldo Caiado (PFL-GO), desdenha da disposição do governo em levá-la a voto. "Não bastasse o fato de os líderes governistas estarem ficando inconfiáveis, não cumprirem acordos firmados, toda vez que o governo vai pôr a reforma em votação ele acaba chantageado pela própria base e recua."

Ele ironizou o fato de Luizinho ter dito que conta com o acerto fechado no ano passado com os aliados PL, PP e PTB, quando a proposta estava pronta para ser votada na Comissão de Constituição e Justiça: o governo aceitou retirá-la da pauta de votação se houvesse o compromisso de retomá-la este semestre. Caiado disse que na verdade o governo teve de recuar da reforma porque os três partidos fizeram chantagem. "Eles não só ameaçaram assinar a CPI do caso Waldomiro (o assessor flagrado cobrando propina de um bicheiro) como prometeram obstruir a votação dos projetos de interesse do Executivo caso a reforma entrasse em pauta", acusou.

"Toda essa disposição do governo não passa de teatro", insistiu Caiado. Ele afirmou que a reforma também foi usada na negociação feita pelo presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), para tentar votar a emenda que permitiria sua reeleição. A emenda foi rejeitada, mas o pefelista disse que parte do apoio da base governista à proposta foi trocada pela retirada da reforma da pauta.

Em São Paulo, o presidente do PT, José Genoino, disse que o partido dará prioridade à reforma. "O funcionamento do sistema bateu no teto. É desorganizado, as eleições são feitas num processo anárquico e, em muitos casos, decididas na Justiça, numa espécie de tribunalização da política." A posição do PT, segundo ele, será acelerar o debate no Congresso. "As novas regras deveriam valer já para a eleição de 2006", afirmou. "Se realizamos uma reforma do Judiciário, é o momento de fazer também uma reforma dos partidos."