Título: Tarso critica proposta de Cristovam: 'Não é séria'
Autor: Lígia Formenti
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/01/2005, Nacional, p. A8

O ministro da Educação, Tarso Genro, reagiu com desprezo diante da sugestão do seu antecessor, o senador Cristovam Buarque (PT-DF), de federalizar a educação básica. "Isso demonstra a pressa e a espetaculosidade de determinados projetos que ele apresenta. Isso não tem nenhuma sensatez", resumiu Tarso. A troca de farpas entre ministro e ex-ministro da Educação não vem de hoje. Há menos de um mês, Cristovam criticara a política social do governo, sobretudo o Bolsa-Família. Tarso reagiu imediatamente, atribuindo as afirmações de seu antecessor ao fato de ele "estar em campanha". Ontem, o tom das críticas se manteve. Tarso afirmou que Cristovam não discutiu com ninguém se a proposta de federalização seria viável. "Nem com seu partido, nem com sua bancada nem com secretários", disse. "Isso não é sério."

Pela proposta de Cristovam, o Ministério da Educação assumiria a responsabilidade pela qualidade das escolas. Pelas regras em vigor, determinadas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, tal responsabilidade hoje é exercida por municípios. A União não tem nenhum poder de interferência na administração conduzida pelos municípios. "Precisa perguntar para o Cristovam de onde viria o dinheiro para fazer a mudança."

Para Tarso, sua administração terá agora dois momentos chaves. O primeiro é a manutenção do orçamento originário para a sua pasta. "Nossa expectativa é de que sejam contingenciados apenas os valores de emendas parlamentares, o que é natural", adiantou. Outro ponto importante é a apresentação, até o dia 15 de fevereiro, da proposta da criação do Fundeb, o fundo para financiar o ensino básico. "A partir daí, podemos fazer uma avaliação realista se a educação brasileira vai dar um salto de qualidade ou se vamos enfrentar outros problemas."

EQUIPE ECONÔMICA

Ele garantiu não haver atrito com áreas do governo na discussão sobre a vinculação das receitas e argumenta que a revinculação de recursos para educação é indispensável para a criação do Fundeb. "Estados precisam ter uma previsão dos recursos que vamos destinar", justificou. Tarso, no entanto, disse que tal reivindicação não deteriora sua relação com a área econômica. Ele afirmou concordar com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, sobre as discussões da vinculação de recursos. "Isso não pode ser um dogma."

E sugeriu: "O governo pode em determinado momento fazer a revinculação progressiva de recursos da educação, manter o da saúde e acabar com outras. Temos consciência que o orçamento tem de ter uma certa maleabilidade. Mas ao mesmo tempo sabemos que, para o presidente Lula, educação é um investimento."