Título: Depois da devastação, os bandidos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/01/2005, Internacional, p. A17

Ladrões, estupradores, seqüestradores, piratas e golpistas estão atacando carregamentos de ajuda, sobreviventes e famílias de vítimas dos tsunamis em campos de refugiados e hospitais asiáticos e nos países de origem de turistas europeus atingidos pelas ondas gigantes que devastaram o sul da Ásia e o leste da África no dia 26. Autoridades e organizações de ajuda de lugares tão distantes entre si quanto Grã-Bretanha, Suécia, Sri Lanka, Tailândia e Hong Kong afirmaram ontem que criminosos estão aproveitando o caos para estuprar sobreviventes em Sri Lanka ou assaltar as casas de turistas europeus dados como desaparecidos. Em radical contraste com o movimento mundial de ajuda humanitária em resposta ao desastre de 26 de dezembro, um grupo de mulheres de Sri Lanka afirmou que estupradores estão atacando sobreviventes desabrigadas.

"Recebemos relatos de incidentes de estupro, estupro em grupo, moléstia e abuso físico de mulheres e garotas durante operações de resgate sem supervisão e enquanto elas estavam em abrigos temporários", assinalou a Organização Mulheres e Mídia.

O grupo de ajuda humanitária Save the Children advertiu que crianças que perderam os pais nos tsunamis são vulneráveis à exploração sexual. "A experiência de catástrofes anteriores mostra que as crianças ficam especialmente expostas", disse a diretora sueca do grupo, Charlotte Petri Gornitzka.

Na Tailândia, ladrões disfarçados de policiais e de membros de equipes de socorro roubaram bagagens e cofres de hotel no balneário de Khao Lak, onde o tsunami matou milhares de pessoas. A Suécia enviou ontem sete policiais ao país asiático para investigar a denúncia de seqüestro, por pedófilos, de um garoto sueco de 12 anos cuja mãe foi levada pelas ondas em Khao Lak (ler ao lado).

As Nações Unidas também advertiram que piratas são uma ameaça aos carregamentos de suprimentos por barco diante da costa oeste da ilha indonésia de Sumatra, a mais devastada pela tragédia.

Os tsunamis já deixaram quase 145 mil mortos (ver quadro abaixo). Quase 5 milhões de pessoas ficaram desabrigadas.

Milhares de pessoas continuam desaparecidas, entre elas 2.500 suecos. As autoridades suecas, entretanto, pararam de divulgar os nomes dos desaparecidos depois que as casas de alguns deles foram invadidas por assaltantes.

Em Hong Kong, a organização humanitária Oxfam alertou que um e-mail de arrecadação de fundos em nome da instituição que está circulando pela internet é falso. O e-mail pede às pessoas que depositem doações numa conta bancária em Chipre.