Título: O que esperar da Bolsa?
Autor: CELSO MING
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/01/2005, Economia, p. B2

Quem examina a valorização das ações negociadas na Bolsa de Valores talvez não se impressione. O Ibovespa (que mede a evolução das cotações das 53 ações mais negociadas) acumulou em 2004 alta de 17,8% e de 34% no segundo semestre, o que não foi sombra daqueles 97,34% alcançados em 2003. Ainda assim, supera o retorno em renda fixa, como os fundos DI (15,5%) e a caderneta de poupança (8,1%).

A força da Bolsa vem de outras variáveis. O volume negociado foi de R$ 260 bilhões, o segundo maior da história, uma vez descontada a inflação, conforme indica a consultoria Economática. O número de negócios subiu de 4,9 milhões em 2003 para 6,8 milhões em 2004, também um recorde.

Desta vez, o combustível não foi a entrada de capitais. Até o dia 28 apresentavam saldo positivo de R$ 1,5 bilhão, muito aquém dos R$ 7,5 bilhões de 2003.

Esses números são como ronco de motor. O carro pode estar desenvolvendo velocidade baixa, mas, se o motor ronca "cheio", mostra potência e "saúde".

Uma economia em crescimento quase sempre melhora o desempenho das empresas e de suas ações. Lá por maio ou junho, os juros podem cair, o que também é bom para as ações. E, como o dólar está em crise, é provável que capitais graúdos arrisquem algo em ações de países emergentes.

É natural que o quadro positivo levante a pergunta se esta não seria uma boa hora para pegar carona nessa energia. Ou, então, tendo em vista o desempenho dos últimos seis meses, se a hora não seria para cair fora. Pelo sim ou pelo não, esta coluna ouviu a opinião de seis especialistas que podem ajudar a fazer sua cabeça. Confira:

Pedro Bastos, analista do Unibanco Asset Management, espera para 2005 uma valorização do Ibovespa próxima dos 23%. Mas adverte que a hora é de escolha mais cuidadosa. Uma sugestão é conferir os setores que mais deverão tirar proveito do crescimento econômico: varejista, siderurgia, fertilizantes, petroquímica e mineração.

Alexandre Póvoa, diretor do Modal Asset Management, é mais pessimista. Para ele, o desempenho do Ibovespa será inferior ao da renda fixa. Argumenta que a alta dos juros nos Estados Unidos e o tombo dos preços das commodities é vento contra. E o que poderia empurrar para cima, a baixa dos juros no mercado interno, não deverá acontecer antes de julho.

Pelas mesmas razões, Raquel Fleury, da Tendências Consultoria não se entusiasma. Para ela, o Ibovespa poderá atingir os 28 mil pontos em 2005, o que apontaria uma evolução inferior a 7%.

Márcio Bandeira, da GlobalInvest, é mais ousado: "Até meados de 2005, o Ibovespa deverá atingir os 35 mil pontos" Aos setores apontados, inclui o de papel e celulose, que pode beneficiar-se com as compras pela China. Mas Bandeira espera uma reversão lá por julho. Desconfia de que, de olho na campanha eleitoral de 2006, os investidores passarão a vender.

Fábio Colombo, analista independente, aposta em que o índice atinja até 30 mil pontos (14,5%). Para que isso ocorra, os preços do petróleo não podem ultrapassar os US$ 45 o barril. Se ultrapassarem, a inflação mundial terá de ser atacada com alta dos juros e isso afugentará os investidores das bolsas.

Para Fernando Exel, presidente da Economática, prevalecerão fatores positivos: de um lado, a boa perspectiva alimentada pela alta moderada dos juros nos Estados Unidos e pela demanda mundial aquecida pelas compras da China; e, de outro, a boa fase do consumo interno mais a melhora do tratamento tributário (queda do Imposto de Renda sobre os ganhos em Bolsa, de 20% para 15%).

Uma dica final: nunca arrisque um dinheiro do qual você não possa perder uma boa lasca. Se você é daqueles que perdem o sono porque a Bolsa levou um escorregão, não tem o perfil de um aplicador em ações. Nesse caso, é melhor ganhar menos, mas firme.