Título: Enviado de Lula inicia hoje mediação em Caracas
Autor: James Allen
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2005, Internacional, p. A18

O governo brasileiro inicia hoje a negociação para superar a crise entre a Colômbia e a Venezuela, provocada pela captura de um guerrilheiro colombiano em território venezuelano. O enviado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marco Aurélio Garcia, desembarca hoje em Caracas. Entre outros compromissos, ele terá a incumbência de relatar ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, os resultados da conversa entre Lula e seu colega da Colômbia, Álvaro Uribe, na cidade fronteiriça de Leiícia, na quarta-feira. "Vamos procurar baixar o tom e fixar normas para o futuro", disse ontem Garcia, assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais. "Chávez está com ótimo ânimo porque está preocupado com outras questões e quer superar este episódio rapidamente." Garcia salientou que a atuação do Brasil na crise é importante para o País, que assume suas "responsabilidades continentais" na construção da Comunidade Sul-americana das Nações.

Ele assinalou que o governo sempre defendeu que a América do Sul seja um zona de paz e progresso, e a atual crise não contribui para isso. Além de tratar da crise diplomática, Garcia vai preparar a viagem de Lula a Caracas, no dia 14, quando será assinado um acordo de cooperação econômica e comercial nas áreas de infra-estrutura, energia e petróleo.

A assessoria de imprensa do Itamaraty antecipou-se a eventuais críticas à atuação do Brasil na crise Colômbia-Venezuela ao informar que o governo brasileiro está "preocupado em fazer o que considera correto e adequado para facilitar o diálogo entre os dois vizinhos". Essa declaração surgiu como resposta à versão de que o governo americano teria criticado a atuação do Brasil no episódio. Um alto funcionário do governo americano, no entanto, desmentiu que o governo Bush tenha criticado a iniciativa brasileira. Segundo essa fonte, são bem-vindos os gestos do Brasil e do Peru na busca de uma solução para a crise.

"Não estamos preocupados com outras considerações, além daquelas da Colômbia e da Venezuela", comentou a assessoria do Itamaraty. Garcia minimizou uma circular encaminhada pelo Departamento de Estado a países "parceiros", que teria destacado a mediação do Peru e da Comunidade Andina e reforçado as ásperas críticas de Washington a Chávez. "O documento não cita o Brasil. Não nos sentimos interpelados e não vejo por que responder", disse ele. "As iniciativas do Brasil e da Comunidade Andina não são contraditórias."

A chanceler da Colômbia, Carolina Barco, informou ontem ter entregado ao governo da Venezuela informações sobre a presença de sete guerrilheiros colombianos no país. Os dados incluem nomes, endereços e telefones de parentes de guerrilheiros que vivem na Venezuela.