Título: BC compra dólar mas não evita queda
Autor: Priscilla Murphy
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2005, Economia, p. B1

O dólar fechou em baixa de 1,1% ontem, cotado a R$ 2,688, apesar de o Banco Central ter feito um novo leilão de compra. "Pelos dados das contas externas divulgados na quinta-feira, o Banco Central vem retirando do mercado mais dólares do que o volume que está entrando no País", diz a analista do Banco Pátria de Negócios, Renata Heinemann, lembrando que a autoridade monetária comprou US$ 1,13 bilhão este ano até 15 de janeiro. A explicação para a queda, portanto, está na desvalorização do dólar ante as principais moedas do mundo. O índice preliminar da confiança do consumidor americano calculado pela Universidade de Michigan caiu este mês para 95,8 pontos, abaixo da expectativa do mercado, de 98 pontos. O índice de dezembro havia ficado em 97,1 pontos. Com isso, o dólar fechou em queda no mercado mundial, com o euro a US$ 1,306, ante US$ 1,295 na quinta-feira.

Já a Bovespa fechou ontem em alta de 0,88%, em 23.818 pontos, recuperando-se um pouco das perdas dos últimos dias. Assim mesmo, a Bolsa acumula queda de 9,08% este ano. Segundo a analista do Pátria, a Bolsa está caindo principalmente por dois motivos. Muitos investidores individuais esperaram a virada do ano para vender ações e embolsar os lucros obtidos com a valorização do mercado no ano passado para aproveitar a nova alíquota do Imposto de Renda, que caiu de 20% para 15%.

Além disso, diz Renata, alguns fundos internacionais estão tirando aplicações de mercados emergentes. "Nesse caso, a Bolsa sentiu mais que os títulos da dívida (e conseqüentemente o risco Brasil), porque houve uma captação e a melhora na perspectiva de classificação de risco do País."

Entre os principais investidores em títulos brasileiros e emergentes em geral, o sentimento é de otimismo contido. Os mercados emergentes devem continuar a ter um ambiente benigno em 2005, mas não repetirão o desempenho do ano passado, quando ofereceram de forma geral retornos graúdos aos investidores. Essa avaliação norteou um seminário realizado esta semana na City londrina pela Emerging Market Traders Association (EMTA), entidade que reúne grandes bancos e fundos de investimento internacionais.

O analista Peter Worthington, do Credit Suisse First Boston (CSFB), prevê que o desempenho dos ativos dos emergentes poderá ser alvo de maior volatilidade no curto prazo por causa das incertezas com os juros nos Estados Unidos. Por isso, o CSFB assumiu na semana passada uma atitude mais cautelosa na sua recomendação para os emergentes, inclusive alterando a da dívida brasileira de positiva para neutra.

Os juros futuros continuaram em alta, ainda reagindo à expectativa de que o BC pode ser ainda mais conservador na política monetária. O DI de janeiro, o mais negociado, subiu de 18,53% para 18,67% ontem.