Título: Governo rebate ataque a Furlan
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2005, Economia, p. B4

O Ministério das Relações Exteriores tomou ontem a iniciativa de reagir, com um dia de atraso, aos insultos do novo presidente da União Industrial Argentina (UIA), Hector Méndez, ao ministro brasileiro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. Méndez chamou Furlan de "criador de galinhas", uma expressão que remete à origem empresarial do ministro brasileiro, que foi presidente da Sadia, mas carrega também uma pesada conotação pejorativa em espanhol. Para o Itamaraty, esse tipo de declaração não contribui para as relações bilaterais.

O porta-voz do Itamaraty, Ricardo Neiva Tavares, declarou que o ministério se dá conta de que Méndez representa o setor privado argentino, e não o governo. Mas reiterou que as suas declarações causaram incômodo ao governo brasileiro e "não contribuem para o clima construtivo, de respeito e de diálogo, que temos estabelecido com a Argentina".

De férias no exterior, Furlan não foi informado por sua assessoria sobre o insulto. Seu ministério preferiu manter-se em silêncio. A declaração de Méndez foi uma reação à observação de Furlan, em entrevista ao Estado, de que as salvaguardas argentinas contra produtos brasileiros "são inaceitáveis".

O ministro brasileiro havia desmontado a tese de Buenos Aires de que o país enfrenta um cenário econômico menos favorável que o do Brasil. Afirmou que a Argentina tem taxas de câmbio, de juros e de inflação melhores que as brasileiras, além de crescimento econômico, pelo segundo ano consecutivo, de 8% em 2004, e uma carga tributária menor. O dilema argentino, segundo Furlan, foi seu longo processo de desindustrialização e a ausência de uma clara política industrial, como a do governo brasileiro.

O insulto de Méndez certamente tornará mais carregado o clima da reunião entre negociadores brasileiros e argentinos, no Rio, no dia 25, quando serão tratadas as demandas argentinas de criação de um mecanismos para compensar desequilíbrios e assimetrias nas economias dos dois países, que teriam impacto no comércio bilateral - as salvaguardas ou outra fórmula. A Argentina também quer a adoção de uma espécie de código de conduta para os investimentos estrangeiros na região.

"Também temos setores brasileiros que se sentem afetados pelas importações dos concorrentes argentinos", disse o subsecretário-geral de América do Sul do Itamaraty, embaixador Luís Felipe de Macedo Soares, ao indicar o caráter frágil e contraditório da proposta do país vizinho.