Título: 'Agricultura familiar mantém espaço'
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2005, Economia, p. B6

Preocupado com a repercussão que a troca de comando na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) poderia ter no governo e nas entidades civis envolvidas com a agricultura familiar, o ministro da Agricultura, Robert o Rodrigues, afirmou ontem que a mudança não representa nenhuma preferência pela atividade empresarial. "A agricultura familiar tem, e continuará tendo, conforme determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, prioridade nas políticas executadas pelo Ministério da Agricultura e pela Embrapa, até mesmo porque ambas se inserem no agronegócio, e não há quaisquer antagonismos entre elas", disse. Segundo o ministro, o compromisso da Embrapa é com a ciência. Ele apressou-se em dar esse esclarecimento para descaracterizar a troca de comando da estatal como uma vitória do agronegócio sobre a agricultura familiar. A orientação ao novo comando é dar atenção às duas áreas. Mas é fato que o presidente demitido da Embrapa, Clayton Campanhola, centralizava suas ações na agricultura familiar, e por isso estava em choque com o ministro.

Rodrigues reiterou que a troca no comando da estatal faz parte da reestruturação administrativa do ministério. O ministro disse que o novo presidente da empresa é de uma família de agricultores familiares do interior de São Paulo. "Ficaria muito esquisito se agora eu negasse meu passado", disse Silvio Crestana, por meio da assessoria do ministro. Crestana, que vai substituir Clayton Campanhola na presidência da Embrapa, passou os últimos dois dias em Brasília trabalhando na sede do Ministério da Agricultura, mas não deu entrevistas.

O prefeito de São Carlos (SP), Newton Lima (PT), amigo e um dos padrinhos da indicação de Crestana, fez questão de reforçar o discurso do ministro. "O Silvio (Crestana) vai tratar das duas áreas: agricultura familiar e agronegócio. Não vai haver dicotomia entre as duas áreas", afirmou. Segundo ele, o fortalecimento da agricultura familiar é uma política do governo Lula, e não será abandonada. "O Silvio é uma pessoa talhada para dar conta das duas áreas", disse.

O ministério confirmou ontem os nomes dos novos integrantes da diretoria da Embrapa, conforme o Estado antecipou. Vão integrar a equipe de Crestana José Geraldo Eugênio, da área de produção vegetal; Tatiana de Sá, especialista em manejo e recursos naturais sustentáveis; e Kepler Euclides Filho, da área de produção animal. Todos os escolhidos já trabalhavam na Embrapa.

José Geraldo Eugênio dirigia a área de Pesquisa e Desenvolvimento da estatal, em Brasília; Tatiana de Sá era chefe geral da Embrapa Amazônia Oriental, no Pará; e Kepler Euclides Filho chefiava a Embrapa Gado de Corte, no Mato Grosso do Sul. "Eles foram indicados com base nos critérios de excelência, liderança e alinhamento aos princípios da empresa", disse o ministro. Rodrigues acrescentou que aguarda resposta de Campanhola sobre o convite para assumir a chefia do Pólo de Biocombustíveis de Piracicaba (SP).