Título: Serra diz que rodízio vai mudar
Autor: Juliana Bianchi Mauro Mug
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2005, Metrópole, p. C1

O sistema de rodízio municipal de veículos vai mudar em São Paulo. O anúncio foi feito ontem pelo prefeito José Serra em entrevista à Rádio Jovem Pan. "O rodízio não vai acabar, mas vai mudar", garantiu, depois de informar que o presidente da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), Roberto Scaringela, está analisando o programa. O rodízio, suspenso desde 22 de dezembro, voltará a ser adotado na quarta-feira. Mesmo com o período de férias e por causa do feriado de terça-feira, a cidade registrou 170 quilômetros de congestionamento ontem às 19h30, recorde do mês (Veja detalhes na página 6). "Não há ainda uma proposta definitiva, mas estamos estudando o que vamos fazer com o rodízio. Não vai acabar, mas pode ter mudança", afirmou o prefeito. "Não posso chegar aqui e dizer: vai mudar nessa direção, porque de repente não muda e vão achar que eu não estou cumprindo com aquilo que eu disse", completou. Segundo Serra, se houver mudança, ela vai ser muito bem explicada para que "se possa tentar outros caminhos".

O presidente da CET confirmou ao Estado que está avaliando o sistema. Ele não quis dar detalhes nem fixar data para divulgação do resultado do estudo. "Antes, vou apresentar as conclusões ao secretário e ao prefeito, para depois informar a imprensa." Indagado sobre a possibilidade de o rodízio acabar, respondeu: "O que o prefeito falou, falou certo."

Scaringella, que presidiu a CET em 1976, quando a companhia foi criada, apresentou nos últimos anos opiniões diferentes a respeito do rodízio. Em junho de 2000, quando era diretor do Instituto Nacional de Segurança no Trânsito (INST), ao comentar a decisão da CET adotar o rodízio em julho, no período de férias escolares, afirmou: "É uma medida acertada, pois inegavelmente o rodízio diminui os congestionamentos. Ou se mexe na oferta de espaço viário ou na demanda."

Um ano e meio depois, ele afirmava: "O rodízio já mostrou ser uma solução de resultados limitados, já que, mesmo com ele, a cidade registra picos de congestionamento com mais de 100 quilômetros."

PEDÁGIO

Mais um ano e meio se passou e Scaringella defendia adoção de medida mais rígida: "O rodízio terá de ser dobrado em breve, já que seu efeito está se anulando."

Scaringella também foi sempre defensor do pedágio urbano como solução para reduzir congestionamentos. Em setembro de 1998, disse que "é a forma mais coerente e democrática de acabar com os problemas do trânsito nas grandes metrópoles". E mais: "Circula quem quer; é só pagar por isso." Quatro anos depois, defendeu o "pedágio urbano já".

Mas a criação do pedágio urbano para reduzir problemas no trânsito está fora dos planos de Serra. Em entrevista à Jovem Pan, o prefeito disse que, para isso, seria preciso que a cidade tivesse uma boa alternativa de transporte coletivo. "Não vamos criar o pedágio urbano, até porque você não tem um bom sistema de transporte e, se você impedir o carro de circular, como é que as pessoas vão andar?"