Título: Porto Alegre já respira clima do Fórum Social
Autor: Elder Ogliari
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/01/2005, Nacional, p. A4

Uma bandeira de Cuba hasteada no acampamento da juventude, um bando de canadenses se apresentando para o trabalho, um francês tomando contato com o equipamento de tradução, índios preparando o Puxirum. Porto Alegre começou a se transformar numa babel com a chegada dos voluntários e vai virar território de todas as línguas, todas as tribos e todos os projetos que questionem o neoliberalismo. Os grandes debates do Fórum Social Mundial, que começa oficialmente na quarta-feira, versam sobre a paz, alternativas econômicas e inclusão social, trazem intelectuais de renome e presidentes de países. Mas o evento, com cerca de duas mil atividades, também é um palco para discussões tão diversas como direitos dos torcedores de futebol e bruxaria moderna. O "clima" já começou a se formar no acampamento da juventude, sob as árvores do parque da Harmonia. Os socialistas foram os primeiros a chegar. Armaram suas barracas e hastearam suas bandeiras no espaço dos movimentos sociais.

"Eu ajudo na organização e já vou ficando", informa o estudante Cláudio Luiz Zucolotto de Freitas. O cozinheiro Dante Neto já se instalou para evitar as filas dos próximos dias, quando 35 mil pessoas vão chegar ao parque. Longe dos engajados, é avesso a qualquer militância.

Uma turma de canadenses ligados a projetos de educação popular também já chegou. "Vamos ajudar a montar a infra-estrutura do acampamento", promete Camila LaFrance.

Na Usina da Gasômetro, uma espécie de central de comando do Fórum, Rona Santos, do povo tapuia, e Orlando Baré (dos barés), preparam o Puxirum (mutirão) de Artes e Saberes Indígenas, atividade candidata a ser um dos destaques do evento neste ano. Cerca de 400 índios de cem nações, inclusive da Escandinávia, vão tentar consolidar um movimento internacional para defender o direito às diferenças culturais, à vida e à terra.

Ao mesmo tempo, vão fazer seus rituais religiosos todos os dias, às 6 horas, abertos aos interessados. "Nossa espiritualidade é muito forte", explica Baré. A turma esotérica também programou algumas atividades para o fórum. Estão previstos debates sbre o paganismo, cultos para difundir a cultura védica e um ritual da doutrina do Santo Daime.