Título: Aumento para deputados é justo, afirma João Paulo
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/02/2005, Nacional, p. A6

Pré-candidato ao governo de São Paulo, o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT), não está preocupado com comentários de que teria promovido um trem da alegria às vésperas de deixar o cargo. Para ele, o aumento da verba de indenização dos deputados, de R$ 12 mil para R$ 15 mil, além de outras medidas tomadas no apagar das luzes de sua gestão, são necessárias para dar estrutura aos gabinetes dos parlamentares. Questionado sobre o custo político de iniciativas desse tipo, quando o salário mínimo subirá para apenas R$ 300, em maio, João Paulo disse ser preciso enfrentar o debate e as críticas. "Toda vez que se mexe com aumento de verba de gabinete, de salário de deputado e de avião do presidente da República pega mal. Mas são coisas inevitáveis", argumentou o presidente da Câmara, que acabou de chegar da Itália, onde permaneceu durante uma semana. Ele viajou para Gênova com todas as despesas pagas pelo Movimento dos Focolares, organização ecumênica que integra a Conferência Mundial das Religiões pela Paz. Também esteve em Roma e trouxe da Santa Sé o pedido para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visite o papa João Paulo II.

Feliz por ser xará do papa, João Paulo negou que a verba de indenização dos deputados - quantia usada para gastos com restaurante, hospedagem, combustível e aluguel de escritórios nos Estados -, embutida no pacote de bondades deixado por ele, tenha objetivo eleitoreiro. Traduzindo: agradar aos deputados e favorecer a eleição de Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), candidato oficial à sua cadeira na Câmara. Greenhalgh enfrenta dificuldades por causa do racha no PT. A divisão, provocada pelo lançamento da candidatura avulsa do petista Virgílio Guimarães (MG), preocupa o governo.

Antes de viajar, João Paulo deixou pronto um projeto que eleva a verba de gabinete de R$ 35,3 mil para R$ 45 mil e o número de funcionários que cada deputado pode contratar de 20 para 25. As medidas representam cerca de R$ 60 milhões a mais por ano nos gastos da Câmara. "Isso não tem nada a ver com Greenhalgh e Virgílio. Desde que o então presidente da Câmara, Aécio Neves (hoje governador de Minas) instituiu a verba de indenização dos deputados, todo fim de ano ela é reajustada. E 25% de aumento representa a média encontrada, nos últimos 24 meses, nos preços de aluguel, água, luz e telefone."

VIRGÍLIO

Amigo de Virgílio, João Paulo desistiu de tentar convencê-lo a não enfrentar Greenhalgh em plenário, já que nem Lula conseguiu fazer o mineiro recuar. Além disso, já começou a fazer campanha para Greenhalgh nos Estados. "Se até agora não houve convencimento político do Virgílio, o problema é dele. Ele não é candidato do PT e, portanto, não temos de tratar disso", insistiu.