Título: Família do brasileiro refém no Iraque espera clemência de seqüestradores
Autor: LUCIANA NUNES LEAL
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/01/2005, Internacional, p. A9

Esperançosa, a família do engenheiro da construtora Norberto Odebrecht João José de Vasconcellos Júnior, seqüestrado na quarta-feira no Iraque, disse ontem esperar "clemência" dos seqüestradores, já que ele trabalhava pela reconstrução do Iraque e não tinha nenhum envolvimento na guerra . A família foi informada pela empresa ser mais provável que o contato dos seqüestradores seja feito até o fim da tarde de hoje. "Nos informaram que existe um prazo para aguardar o contato e eles (os seqüestradores) demoram alguns dias para se manifestar. Nenhum recado foi mandado ainda por eles. Então, demos um prazo para nós mesmos até as seis da tarde de segunda-feira (hoje)'', disse ontem uma de suas irmãs, Isabel de Vasconcellos.

O engenheiro foi seqüestrado quando estava a caminho do aeroporto de Amã, depois de passar um ano no Iraque. Ele embarcaria para os Estados Unidos, onde pegaria um vôo de volta para o Brasil. Segundo Isabel, como ainda não houve contato dos seqüestradores, por enquanto nenhum parente pensa em viajar para algum país mais próximo do Iraque para acompanhar as negociações.

O OUTRO IRAQUE

Ela disse que, durante o ano que passou no Iraque, Vasconcellos sempre teve preocupação de mandar para o Brasil mensagens e fotos por e-mail mostrando "a outra Bagdá, que as televisões não mostram". A intenção do engenheiro era mostrar que não havia apenas guerra no país. As fotos mostravam praças, ruas e cenas cotidianas da vida na cidade.

A família está esperançosa de que, por demonstrar simpatia pelo país e pelo povo iraquiano, Vasconcellos ganhe a confiança dos seqüestradores e seja libertado o mais rápido possível. Ele é casado há 26 anos com Teresa Oliveira Vasconcellos, que vive no Rio com os três filhos do casal, Rodrigo, de 25 anos, estudante de informática; Tatiana, de 23, que cursa odontologia, e Gustavo, de 16, aluno do ensino médio.

Isabel conversou com a cunhada na noite de sábado. "Ela teve forças para fazer compras e preparar uma mala com roupas, óculos, tudo o que o João possa precisar quando for libertado. Ele foi levado quando estava indo para o aeroporto e estava levando tudo que tinha no Iraque, pois estava deixando o país. Sairia de férias com a família e depois iria para o Rio", contou Isabel.

Teresa e os filhos estão fora do Rio, mas continuam no Brasil, segundo Isabel (ler abaixo). Um funcionário da Odebrecht está em contato permanente com Teresa. "Por enquanto não temos notícias, é mais o apoio moral", disse a irmã. "João é um cara muito calmo, centrado, da paz, acha que nada poderia atingi-lo. Tenho esperança, pois o João não tem passado político, de militância. Ele conta que por onde andava no Iraque via camisetas do Brasil, encontrava produtos brasileiros", afirmou Isabel, em sua casa, em Juiz de Fora, onde moram os pais e duas irmãs do engenheiro.

Vasconcellos esteve pela última vez no Brasil no fim de dezembro. Participou da festa de confraternização da Odebrecht na Costa do Sauípe, na Bahia, e passou rapidamente pelo Rio. Não teve tempo de ir a Juiz de Fora. No dia 25 de dezembro, embarcou de volta para o Iraque.

João José de Vasconcellos Jr. que completará 50 anos no dia 24 de fevereiro, é o mais velho dos cinco filhos do engenheiro aposentado João José de Vasconcellos, de 74 anos, e sua mulher, Maria de Lourdes, de 78. O casal mora em Juiz de Fora, onde vivem também Isabel e a outra irmã, Carla. O irmão Luís Henrique mora no Rio. Há 11 anos, morreu o quinto filho do casal, o médico Augusto, em decorrência de hepatite C.

Formado em engenharia em 1978 na Universidade Federal de Juiz de Fora, Vasconcellos sempre viajou muito para trabalhar em obras no Brasil e no exterior. "Em 26 anos de casado, acho que ele se mudou mais ou menos 25 vezes", contou Isabel. Há cinco anos, Teresa e os filhos, que sempre acompanhavam o engenheiro, decidiram fixar residência no Rio. Eles moram em um condomínio na Barra da Tijuca.

"João sempre diz que vai onde tem obra para trabalhar. Agora ia chegar do Iraque e depois das férias ainda não sabia qual seria a próxima viagem", contou a irmã. O engenheiro nasceu em Vitória, mas mudou-se com a família para Juiz de Fora ainda muito pequeno e viveu na cidade até se formar. Depois, esteve em diversos Estados e trabalhou em obras na Argentina, no Uruguai e no Equador, onde estava quando foi mandado para o Iraque, para trabalhar na obra de reconstrução de uma termoelétrica.