Título: Uma agência contra o caos em SP
Autor: Bárbara Souza
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/01/2005, Metrópole, p. C1

A maioria dos prefeitos recém-empossados encontrou um quadro caótico: cidades escondidas atrás de outdoors, fios, entulho e mato. Para evitar essa desordem em que os municípios são deixados a cada transição administrativa, arquitetos da Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura (Asbea) propõem, no caso de São Paulo, a criação de uma agência reguladora permanente de planejamento urbano, cuja atuação não sofreria alterações mesmo em épocas de mudança de governo. "Há muita obra abandonada porque, com a troca de prefeitos, não há continuidade dos projetos do governo anterior", afirma o presidente da entidade, Jorge K¿nigsberger. "Nas grandes cidades do mundo existe esse tipo de agência para evitar desperdício."

A situação a que K¿nigsberger se refere é fácil de comprovar. Num passeio de duas horas por regiões consideradas críticas da capital, para o qual convidaram a reportagem do Estado, cinco arquitetos da Asbea chegaram à mesma conclusão: São Paulo virou terra de ninguém. "A soma da falta de planejamento e da descoordenação produziu uma cidade caótica. Há uma série de espaços cuja responsabilidade é sempre imputada ao outro."

Um exemplo é a montanha de entulho que sobrou da construção do Túnel Max Feffer deixada na alça de acesso à Marginal do Pinheiros pela Ponte da Cidade Jardim. Ela já chega a 5 metros de altura.

Seguir pela Marginal revela ainda outros pontos problemáticos, que muitas vezes passam despercebidos. Na esquina com a Rua Taques Alvim, no sentido Interlagos, a poluição do Rio Pinheiros acaba ficando em segundo plano numa paisagem tão carregada de interferências. Outdoors espalhados por todos os muros, pichações, propaganda eleitoral e até um equipamento usado para transportar peças de concreto para a construção da Ponte dos Bandeirantes, há mais ou menos 20 anos. "É impressionante uma ferramenta deste tamanho estar largada no meio do canteiro, que está completamente abandonado", afirma o arquiteto Marcio Mazza.

Para os especialistas, essa esquina resume bem a crise urbanística pela qual a cidade está passando. "É um direito nosso usufruir da paisagem urbana. Mas hoje o que vemos é uma interferência violenta nela", afirma o vice-presidente da Asbea, Roberto Aflalo.

O cenário fica ainda mais caótico quando se olha para o chão. Ainda incompleta, a Avenida Rebouças é outro grande exemplo da falta de planejamento. As calçadas, em particular, transformam a rotina do pedestre num desafio e irritam comerciantes. "Mas não há uma quadra de São Paulo que não tenha remendos, invasões e obras inacabadas", critica K¿nigsberger.

Depois do início da construção do Túnel Fernando Vieira de Mello e das obras das calçadas, sobram buracos, lama, fios soltos, improviso. Para os arquitetos, o mínimo de fiscalização garantiria outro resultado. "Não tem um fiscal para dizer que esta obra não foi entregue, então cada um trabalha da maneira que acha melhor", afirma K¿nigsberger, que considera esse o maior exemplo de descaso com o cidadão. "Por que será que a Marta (Suplicy) não foi reeleita? Será que foi uma prefeita tão ruim assim?"