Título: Palocci e Meirelles calam 'gastadores'
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/01/2005, Economia, p. B3

O êxito da política econômica em 2004 fortaleceu os ministros da ala defensora da rigidez fiscal, como Antonio Palocci, e o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles. Um dos ministros do grupo desenvolvimentista, chamados de "gastadores" pela turma da rigidez, admite que a dupla Palocci-Meirelles tem "gordura para queimar" porque tem folha de serviços prestados para mostrar ao chefe presidente. Mas nem por isso o grupo dos "gastadores" se calou totalmente. Ele não só mantém as críticas aos juros altos do BC como acrescenta que as duas últimas altas da Selic foram desnecessárias.

Na visão de um desses ministros, o peso de seu colega da Fazenda em dezembro de 2003 era pequeno. Àquela altura, se Palocci não havia deixado a economia desandar, tampouco havia oferecido um brinde para reforçar o discurso político do presidente, que via seu prestígio, capital político, queimar rapidamente, além de amargar uma queda acentuada de popularidade.

Só com o crescimento da economia verificado no fim do ano passado Palocci passou a ter o patrimônio político que tem hoje, fazendo frente ao ministro da Casa Civil, José Dirceu.

Um dos ministros do grupo de Dirceu afirma que todos os seus colegas são favoráveis a se gastar um pouco mais e a não haver "tanta paranóia" com a inflação. Mas admite que quem tem a responsabilidade do equilíbrio das contas, como Palocci, é sempre mais sensível à alta inflacionária. E atesta que há uma unidade no governo: ninguém quer violentar o patrimônio da estabilidade.

A tensão interna entre os dois grupos continua latente, mas tem tido menos espaço porque o ministro da Fazenda e o presidente do BC acumularam um bom capital político com o crescimento da economia.

Assim como o ministro que falou ao Estado, Lula também não gosta de aumento de juros. Mas, depois de ouvir Palocci e Meirelles na semana passada, concordou que o remédio é esse e o resultado final da economia em 2004 foi bom, a despeito de todos os prognósticos em contrário. Palocci reforçou esse ponto na entrevista que concedeu semana passada, ao afirmar que as taxas de crescimento econômico eram a única resposta que tinha para os críticos.

Mais do que isto, Lula está convencido de que o BC não é o maior culpado pela alta dos juros. A conversa com Palocci e Meirelles ajudaram o presidente a compreender que aumentar os juros é uma ferramenta da equipe econômica e que, em tempos de aumento de preço e de inflação, a equipe econômica não tem saída.

Mas Palocci também sabe que precisa manter diálogo entre as duas partes, até porque o mais angustiado para garantir recursos e trabalhar pelo social é o presidente Lula. Tanto que na última reunião ministerial de 2004, ele fez questão de afirmar que o território do controle da inflação está ocupado e seu governo precisa cuidar agora do desenvolvimento.

Divergências a parte, a idéia que prevalece hoje entre os paloccistas e os ministros políticos, preocupados com a opinião pública e com as eleições de 2006, é uma só. Todos avaliam que o governo está fazendo sua parte e quem quer tirar vantagens, agora, está atrapalhando. É por isso que Lula está preocupado com as remarcações de preços e decidiu conversar com os empresários.