Título: Mercado aguarda a ata do Copom
Autor: Priscilla Murphy
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/01/2005, Economia, p. B4

Apesar do feriado em São Paulo, amanhã, que vai reduzir o volume de negócios no mercado brasileiro, a semana será de expectativa entre os investidores. As atenções estarão voltadas para a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, o Copom. Na semana passada, o Copom aumentou os juros pela quinta vez consecutiva, em 0,5 ponto porcentual, para 18,25% ao ano. Como a decisão foi unânime, a expectativa é de que o texto a ser divulgado quinta-feira seja conservador e talvez até indique que este não foi o último aumento do juro básico. "Como sempre acontece nesses casos", diz o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, "a ata será adjetivada de dura e mal-humorada".

Antes mesmo da divulgação do documento, os juros de mercado podem continuar subindo hoje, em reação à pesquisa Focus, que o BC faz para medir a expectativa dos investidores, prevê o economista. "A pesquisa Focus deve sair ainda com a expectativa de inflação acima da meta oficial do governo para este ano, de 5,1%." Na semana passada, o contrato futuro de juro com vencimento em abril subiu de 18,45% para 18,58% ao ano .

Para a economista-chefe do Banco Fibra, Maristella Ansanelli, "parece claro que o processo de ajuste da taxa de juro não chegou ao fim". A magnitude dos próximos movimentos da Selic, continua Maristella, vai depender do comportamento das expectativas de inflação e da atividade. "Os primeiros sinais do BC, no entanto, não incentivam apostas numa redução do ritmo do ajuste já no próximo mês."

O esforço do Banco Central, segundo o economista-chefe do Banco Schahin, Cristiano Oliveira, é manter o tom da ata deste mês tão duro quanto o de dezembro, para desestimular o consumo. "Uma ata mais leve só viria na próxima reunião do Copom", afirma o economista.

Segundo ele, os indicadores antecedentes estão apontando para a manutenção do crescimento da atividade econômica mais à frente, o que influencia o comportamento do BC. A atividade econômica, portanto, será um dos pontos que merecerão destaque na redação do texto da ata, juntamente com a aceleração mês após mês dos núcleos de inflação.

Nos Estados Unidos, sai o volume de encomendas de bens duráveis na quinta-feira e, na sexta, a primeira prévia do PIB do quarto trimestre do ano passado. "Esses indicadores podem mostrar que a economia americana continua vigorosa, que o efeito recessivo da alta do petróleo do ano passado já está se esgotando", diz Rosa. Se isso ocorrer, é possível que o dólar se desvalorize menos esta semana, o que pode segurar a valorização do real.

Na semana passada, o dólar registrou queda de 0,5%, e encerrou a sexta-feira cotado a R$ 2,688. A Bovespa caiu mais 2,8%, para 23.818 pontos, com investidores realizando os lucros do ano passado.