Título: Açúcar para mercados exigentes
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/01/2005, Economia, p. B10

O açúcar orgânico brasileiro começa a ganhar os exigentes mercados da Coréia do Sul e da Espanha com a sua própria marca. O esforço para escapar da vala comum de simples commodity, até mesmo para um produto orgânico, que já é diferenciado pelo fato de ser livre de agrotóxicos, vem sendo feito pela Native, empresa de Sertãozinho, no interior de São Paulo, do Grupo Balbo. "Já estamos hoje em 10 lojas da Hyundai na Grande Seul, em mais de 50 lojas da rede coreana especializada em produtos orgânicos Uginong, além de cafeterias sofisticadas daquele país", diz o diretor Comercial da Native, Leontino Balbo Júnior. Na Espanha, o produto com a marca brasileira acaba de ser admitido nas prateleiras da tradicional loja de departamentos El Corte Inglez e em redes de conveniência.

Nas contas do diretor da empresa, vender o açúcar orgânico com a sua própria marca, no lugar de entregá-lo para ser vendido com o timbre do comprador, compensa. "O diferencial do preço em dólar oscila entre 10% e 15%", diz.

Atualmente, das cerca de 25 mil toneladas anuais de açúcar orgânico que a companhia exporta para 41 países, 90% vão para indústrias que ou utilizam o item como ingrediente na fabricação de outros alimentos ou revendem o produto simplesmente acondicionando-o na sua embalagem e com a sua marca.

"O objetivo de longo prazo é ter a nossa marca nas lojas do exterior, e não sermos apenas fornecedores de outras marcas", diz Balbo Júnior.

No Japão, por exemplo, o açúcar orgânico produzido pela Native responde por 60% do consumo industrial. Nos Estados Unidos, o produto brasileiro aparece sob a marca Stone Field Farm, que compra o açúcar e o empacota. Na Inglaterra, a companhia brasileira é fornecedora do produto para as marcas Silver Spoon e Billington's. Coincidentemente, esta última marca está lado a lado da Native nas lojas da rede coreana Uginong, observa Balbo Júnior.

O executivo conta que o trabalho para abrir o mercado da Coréia do Sul foi de "formiguinha". Há dois anos, a empresa iniciou a empreitada por meio de um distribuidor local de produtos brasileiros, que foi divulgando o açúcar orgânico no varejo, em cafeterias e lojas especializadas.

Ao contrário de outros países onde o início do trabalho foi na indústria, na Coréia do Sul começou pelo varejo, nas cafeterias chiques de Seul, cujos freqüentadores são pessoas formadoras de opinião. "Lá, os coreanos agendam um horário para degustar o café e constataram que o açúcar orgânico melhora o sabor da bebida."

Balbo Júnior observa que, na Ásia, a cultura de consumo é muito diferente da ocidental. Ao contrário da Europa, onde o produto é vendido sem que o comprador conheça o fornecedor, nos países asiáticos eles querem ver a a cara do produtor e ter a certeza de que terão o suporte técnico da mercadoria até a prateleira da loja.

Por isso, a empresa traz sistematicamente os compradores asiáticos para conhecer a usina de açúcar no Brasil, o processo de produção e as redes varejistas onde o item é vendido, como supermercados sofisticados - entre os quais estão a Casa Santa Luzia e o Pão de Açúcar. "Gastamos muito pouco para internacionalizar a marca porque usamos o showroom Brasil."

O empresário ressalta também que a marca brasileira tem um apelo adicional. É que consumir produtos estrangeiros hoje é símbolo de status para os novos ricos coreanos, diferentemente da Europa e dos EUA.