Título: Militantes queimam boneco do presidente
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2005, Nacional, p. A4

No protesto que o presidente Lula não viu, cerca de mil manifestantes interditaram uma das pistas da Avenida Padre Cacique, diante do Ginásio Gigantinho. Eles passaram a manhã gritando palavras de ordem e discursando contra a política econômica do governo federal. Em meio aos discursos, queimaram uma bandeira dos EUA e um boneco que imitava a figura de Lula. A manifestação também reproduziu uma divisão familiar. O ministro da Educação aplaudia Lula dentro do ginásio enquanto sua filha, a deputada Luciana Genro (PSOL), puxava o coro dos que chamavam o presidente de "traidor" do lado de fora. No momento mais tenso, um grupo chegou a arrancar uma tela de arame da cerca ameaçando enfrentar os policiais para invadir o terreno do complexo esportivo do Sport Club Internacional.

A manifestação começou às 8h30, quando Lula ainda estava no hotel, e terminou ao mesmo tempo em que o presidente encerrava seu discurso e saía do ginásio pelo portão dos fundos. No início, eram cerca de 300 pessoas do PSOL, do Movimento Terra, Trabalho e Liberdade (MTL), do Movimento Socialistas dos Trabalhadores (MST) argentino e de organizações estudantis. O protesto foi ampliado com a chegada dos militantes do PSTU.

O trabalhador rural Lourival Soares da Silva, do MTL, lembrou que em 1982 recebeu Lula em sua casa, em Ituiutaba (MG). "Em 1990 ele voltou lá e disse que no dia em que fosse eleito a primeira coisa que faria seria a reforma agrária", ressaltou. "Hoje ele tem de se esconder do povo, como está fazendo agora."

GARRAFAS

O deputado João Batista de Araújo (PSOL), o Babá, citou o Fórum Social Mundial de 2003, quando Lula era aplaudido por representar a esperança, para mostrar a diferença entre aqueles dias e agora. "Se ele (Lula) tivesse vergonha na cara não baixaria aqui", vociferou. "Aqui estão os que querem um mundo melhor e não o pagamento da dívida externa." Luciana Genro também criticou o governo por não combater a fome e o desemprego.

Dois militantes de um grupo cearense chamado Crítica Radical foram tirados do Gigantinho pela polícia porque tentavam jogar objetos, como garrafas plásticas, sobre a platéia.