Título: Vêm aí mais altas do juro, avisa o BC
Autor: Sheila D'Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2005, Economia, p. B1

Os diretores do Banco Central praticamente enterraram a possibilidade de queda dos juros no primeiro semestre deste ano. Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, eles não só sinalizam com novos aumentos em fevereiro e março, como também são a favor de que a taxa Selic permaneça elevada mesmo após encerrado o processo de ajuste. Como se não bastasse, ameaçam com altas maiores caso a inflação continue acima do nível desejado pelo governo. Essa hipótese chegou a ser cogitada na reunião deste mês, mas foi rejeitada diante da falta de indicadores econômicos que sustentassem a decisão. Foi consenso na equipe, na reunião da semana passada, que "os dados disponíveis neste momento não justificariam" um aperto monetário mais forte do que o 0,5 ponto porcentual de aumento na taxa de juros, quando a Selic passou de 17,75% ao ano para 18,25%. Mas como na ata os diretores também levantam dúvidas quanto à eficácia dos modelos estatísticos do próprio BC para estimar a variação dos preços num ambiente de maior crescimento econômico, essa possibilidade permanecerá no ar nas próximas reuniões.

Agora, não são apenas o comportamento do preço internacional do petróleo, a tentativa de recompor margens de lucro ou as dúvidas em relação às repercussões mundiais com a administração do governo Bush, nos EUA, que preocupam. Na avaliação do Copom, cada vez mais o consumo interno dita o ritmo de expansão do nível de atividade e dos preços, ocupando espaço que era das empresas exportadoras.

Nesse caso, os diretores alertam que há "fatores de autopropagação" da demanda que podem anular parte do impacto da alta de juros na tentativa de reduzir a inflação. Apesar de não citarem quais seriam esses fatores, os diretores acreditam que eles assumem importância ainda maior pelo fato de, na história recente, o Brasil não ter vivido períodos de crescimento econômico sustentado e o BC não saber como se comportam pessoas, empresários e instituições nesse ambiente. Na prática, em vez dos choques externos que elevaram os preços em 2003 e 2004, agora são os próprios brasileiros que alimentam a inflação.

Mesmo sem os diretores deixarem claro na ata, sabe-se que os estímulos ao mercado de crédito no fim de 2003, para iniciar o processo de retomada do crescimento da economia, estão repercutindo com mais força na demanda interna. Reflexo disso é o aumento de 4,2% no volume de empréstimos bancários no último trimestre do ano passado, período em que o BC intensificou o aperto monetário. Essa alta, de acordo com os dados do BC, foi puxada pelos empréstimos com desconto em folha e pelas liberações do BNDES.

Se, apesar da alta dos juros, pessoas e empresas estão tomando dinheiro emprestado, isso se traduz em mais consumo. E, para complicar, o BC não tem verificado um ritmo de aumento dos investimentos para ampliar a produção compatível com a expansão interna.