Título: Meirelles: Não sou ventríloquo da ata
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2005, Economia, p. B3

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, defendeu ontem a política monetária, que, diz, é um pré-requisito para a estabilidade e o crescimento econômico sustentável. Ele não quis prever quando o atual ciclo de alta dos juros poderá ser revertido. "Vai depender do comportamento da inflação", disse Meirelles em entrevista, após participar do Fórum Econômico Mundial. Ele evitou comentar os detalhes da ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de janeiro, ironizando que não quer se tornar num "ventríloquo" do documento. "Mas a grande mensagem dada pelo Banco Central é que queremos criar um crescimento sustentável", disse. "O Brasil não só cresceu em 2004, vai crescer em 2005 e vai continuar crescendo nos anos seguintes com taxas importantes." Segundo Meirelles, "para isso é necessário estabilidade, é necessário inflação na meta".

Meirelles reiterou a previsão do BC de que o PIB do País crescerá 4% em 2005. "Não há dúvida de que os investimentos no Brasil estão crescendo de maneira importante, o que é extremamente positivo", disse. "É por isso que temos essa expectativa de crescimento para 2005, que é muito maior do que o Brasil cresceu nos últimos 15 anos até 2003."

Segundo o presidente do BC, é muito importante que a "a capacidade de crescimento" do País continue se expandindo. "Não há dúvida de que a política monetária funciona no Brasil como no livro-texto, absolutamente como o esperado", disse. "Tanto é verdade que a inflação no Brasil tem uma trajetória cadente, como teve de 2002 para 2003, de 2003 para 2004 e, segundo as expectativas, para 2005."

Ele disse que encara as críticas ao BC com tranqüilidade. "Eu entendo que muitas dessas opiniões não são necessariamente como críticas, mas sim reclamações, e isso é diferente." Ele comparou a elevação dos juros com a necessidade de uma pessoa de entrar numa dieta alimentar. "Certamente a pessoa não sai feliz do médico", comparou. "Isso faz parte do trabalho de qualquer BC, temos de nos preocupar é com os resultados."

O presidente demonstrou estar surpreso com os rumores de que poderia se afastar do BC ainda neste ano para buscar uma candidatura em 2006. "Os meus planos no momento são cumprir a meta de inflação, como acho que tenho deixado bem claro em todas nossas atitudes e intervenções."

Meirelles disse que o governo ainda não decidiu se renovará seu acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). "A decisão será tomada em março. Mas o Brasil pode caminhar sem o FMI."