Título: Muitos riscos e nenhum líder à altura
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2005, Economia, p. B6

DAVOS - Os principais líderes mundiais não estão à altura dos riscos à humanidade hoje. A conclusão é de um debate no segundo dia do Fórum Econômico Mundial, em Davos, em que foi apresentada uma lista dos dez maiores riscos do mundo atual: instabilidade no Iraque, terrorismo, crises fiscais, desestabilização da oferta de petróleo, radicalismo islâmico, redução súbita do crescimento na China, epidemias de doenças infecciosas, mudanças no clima, armas de destruição em massa, e imigração descontrolada e tensões por ela provocadas. A seleção foi feita do ponto de vista de negócios, em projeto organizado pelo Fórum e pela Merrill Lynch, com 60 líderes empresariais. No debate ontem, sobre o trabalho, ficou claro que os riscos transcendem a esfera das empresas e afetam toda a humanidade. Do ponto de vista econômico, disse Fred Bergsten, diretor do Instituto de Economia Internacional, que participou do debate, o pior cenário seria uma alta do petróleo para US$ 70 a US$ 80, combinada com uma drástica queda do dólar, para mais de US$ 1,5 por euro, e menos de 100 ienes por dólar. Neste cenário, a inflação americana poderia disparar e as taxas de juros de longo prazo do país poderiam chegar a dois dígitos, levando à recessão global. Bergsten observou que este cenário seria uma repetição da crise de estagflação do início dos anos 80, a pior do mundo desde o final da 2.ª Guerra Mundial. Defensor de um acordo para intervenção no câmbio pelas principais economias, ele disse que "este é um caso no qual a cooperação internacional poderia funcionar" - o que ainda não aconteceu - como ele notou. Bergsten responsabilizou não só os Estados Unidos pela inação, mas também a União Européia e os países asiáticos. Ronald Noble, secretário-geral da Interpol, apontou que as agências de inteligência de diferentes países, que estão empenhadas no combate ao terrorismo, quase não colaboram entre si. Especialista em meio ambiente, John Holden alertou que recentes estudos mostram que o aquecimento global pode ser mais intenso do que as conclusões alarmantes de um painel intergovernamental em 2001. Segundo ele, o aquecimento pode afetar a agricultura, os germes que causam doenças e o padrão de transtornos climáticos como secas e enchentes - com riscos imprevisíveis em todas estas áreas.