Título: Petistas ficam fora da Mesa e das decisões
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/02/2005, Nacional, p. A4

Com a eleição do deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) à presidência da Câmara, o governo fica sem interlocutor no núcleo de decisões da Casa para impor o destino das matérias de seu interesse nas agendas econômica e política. O papel do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) no comando da Câmara nos dois primeiros anos do governo foi decisivo para a aprovação de propostas importantes e dividiu com o senador José Sarney (PMDB-AP) um canal de relacionamento estreito com o Planalto. Além de perder a presidência da Câmara nos dois últimos anos do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT ficou sem cargo na Mesa Diretora, já que cedera ao PDT uma suplência em troca dos votos da bancada ao deputado Luiz Eduardo Greenhalgh. O clima de perplexidade da madrugada deu lugar ontem a uma sensação de impotência entre os deputados dos mais diversos partidos. "Fazer o quê, agora?" , perguntou, pasmo, João Paulo Cunha. "É preciso deixar a poeira baixar", completou. Para ele, o governo deve manter uma relação institucional com a Câmara.

Sem o controle da agenda, o governo terá de fortalecer seu núcleo de apoio na Câmara, liderado hoje pelo deputado Professor Luizinho (PT-SP), e será obrigado a negociar caso a caso as propostas em tramitação. O primeiro teste será a votação da Medida Provisória 232, que corrige a tabela do Imposto de Renda e aumenta a tributação para o setor de serviços. O novo presidente da Câmara antecipou que não vai prejudicar o pequeno empresário nem o pequeno agricultor, apesar de prometer não atrapalhar a administração do governo do PT.

Alguns projetos de interesse do Planalto, como o que estabelece critérios para o funcionamento das agências reguladoras, a proposta que trata da biossegurança e a segunda etapa da reforma tributária, são as principais pendências na pauta. Ainda está prevista para esse ano a reforma sindical que o governo pretende encaminhar ao Congresso em março e a autonomia do Banco Central que divide a base aliada e não agrada à esquerda do PT.

SUSTENTAÇÃO

Os primeiros passos do governo agora devem ser no sentido de reformular seu esquema de sustentação política, dando mais atenção aos aliados.

Além disso, poderá contar com a ajuda do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e do ex-presidente da Casa, José Sarney, que têm influência entre deputados contrários ao governo.

Sarney, por exemplo, com exceção da parcela rebelde do PMDB, transita bem no PFL e com os líderes dos demais partidos de oposição. Já Renan é aquele a quem os parlamentares se dirigem, sobretudo os de seu partido, quando querem ser ouvidos pelo governo. Em favor dos dois, há a indiscutível habilidade política de nunca dizer "não" e manter a diplomacia.Em vez de arrogantes, os senadores agem como se estivessem sempre aprendendo, mesmo quando se trata de convencer os adversário a fazer o que eles querem.