Título: Desta vez, promessas e barganhas não funcionaram
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/02/2005, Nacional, p. A4

Desta vez nem a barganha funcionou. O governo perdeu a eleição na Câmara mesmo prometendo liberar recursos de emendas do Orçamento, dar cargos a aliados e estabelecer relacionamento menos hostil com as bancadas. Os deputados que migraram para a candidatura de Severino Cavalcanti (PP-PE) no segundo turno deram um recado claro ao Planalto: estão cansados de promessas que não são cumpridas desde outras votações. "O governo tripudiou demais com o Legislativo", desabafou o líder do PTB, José Múcio (PE). Antes do primeiro turno, ele já manifestava preocupação ao ministro Walfrido Mares Guia (Turismo). "Está uma coisa estranha no ar e não sei o que vai acontecer", disse-lhe, ao telefone, segundo relato de Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), que estava ao lado. "Greenhalgh virou mata-borrão dos problemas do governo", observou Faria de Sá. Na avaliação de líderes do PT, o PTB teria sido um dos partidos aliados que ajudaram a eleger Severino, ao lado de PMDB e PP.

Apesar da forte atuação a favor de Greenhalgh, os ministros não conseguiram reverter o quadro. "Havia insatisfação acumulada contra os próprios ministros", disse Paulo Rocha (PA), que deve assumir a liderança do PT. Outros petistas avaliam que o resultado representa justamente a reação dos parlamentares ao fato de o governo se recusar a praticar o fisiologismo na relação com o Congresso.

Os aliados do governo cometeram vários equívocos, achando que a ação dos ministros poderia ajudar o candidato do PT. Os líderes reclamam que não foram chamados pelo PT para discutir o nome do candidato e tiveram de aceitar a indicação de alguém que não tem trânsito fácil na Casa.

A expectativa de que PFL e PSDB ficariam com Greenhalgh na segunda votação caiu também por terra. Uma das coisas que mais chamaram a atenção do PT foi a explosão de alegria de Roberto Brant (PFL-MG) e Antonio Carlos Pannunzio (PSDB-SP) com a derrota do governo.