Título: Severino estréia com críticas à falta de diálogo
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/02/2005, Nacional, p. A7

O deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) usou seu primeiro discurso como presidente da Câmara para reclamar do Executivo. Ao lado do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, deixou clara a insatisfação na Casa, que, entre outras razões, o levou de azarão na disputa a eleito. "Pela Câmara posso assegurar que há certa inquietude entre seus membros por um motivo relevante: querem as senhoras e os senhores deputados ter participação efetiva na elaboração de leis que atendam aos reclamos da população", disse, na cerimônia de abertura dos trabalhos legislativos, na tarde de ontem. Classificando sem modéstia sua eleição de "alvorecer de um tempo novo", ele atacou a edição de medidas provisórias. "Esta é uma casa de profunda tradição democrática, que luta pela retomada de suas prerrogativas, abaladas pela desenvoltura com que o Executivo edita medidas provisórias que provocam o trancamento da pauta, imobilizando o Congresso."

Encarregado de levar ao Congresso a mensagem da Presidência, Dirceu não comentou a derrota de seu partido para a oposição. No plenário, o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) foi aplaudido de pé ao ser citado por Severino.

CAIXA-PRETA

Novo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que também criticou as MPs, arrancou aplausos da audiência ao defender a reforma política. "Não devemos apenas abrir a caixa-preta da política. Nossa obrigação é jogar essa caixa-preta - preta na forma como funciona a operação política hoje - na lata de lixo da história."

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim, usou frase de Ulysses Guimarães e disse que os parlamentares não devem se preocupar "com coisas pequenas". "O Brasil não permitirá à nossa geração, quer ao Poder Executivo, quer aos senhores e senhoras membros do Congresso, que nos preocupemos com coisas pequenas e individuais."

Coincidência ou não, uma das plataformas de campanha do novo presidente da Câmara foi a de aumentar o salário dos deputados e as verbas de gabinete. Jobim não explicou o que quis dizer com "coisas pequenas".