Título: Líderes culpam governo por resultado
Autor: Gilse Guedes
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/02/2005, Nacional, p. A8

Líderes de partidos aliados e da oposição são unânimes em afirmar que a derrota do candidato oficial do PT à presidência da Câmara, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), foi um duro recado dos parlamentares ao Palácio do Planalto: eles estão insatisfeitos com o tratamento dispensado ao Congresso. Ex-advogado de presos políticos e do Movimento dos Sem-Terra (MST), Greenhalgh enfrentou sérias resistências em setores conservadores, como a bancada ruralista. Além disso, a maioria dos deputados critica o petista por não ser um pessoa simpática, de sorrisos e apertos de mãos, como o deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), considerado o "presidente do sindicato dos parlamentares", por defender abertamente aumento salarial para a categoria.

Apesar das dificuldades enfrentadas por Greenhalgh, os líderes partidários não culpam o candidato petista pela derrota na Câmara. "O voto foi para derrotar o governo, não Greenhalgh. Foi a eleição do salve-se quem puder", resumiu ontem o ex-líder do PT, Nelson Pellegrino (BA).

Para o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE), por causa das duas candidaturas do PT, o governo teria sido derrotado de qualquer jeito. "Não podemos reduzir a questão do sorrir ou não sorrir para os deputados. O fato é que, com a dissidência, teria acontecido a derrota qualquer que fosse o candidato."

TROCO

Freire responsabiliza o governo e o PT pela derrota. "O PT desarticulou os demais partidos em função de seus interesses e teve o troco. O partido nunca respeitou o princípio da proporcionalidade e está colhendo o que plantou."

Na opinião do líder do PSB, Renato Casagrande (ES), o governo perdeu a eleição porque não levou em conta a opinião dos líderes partidários - Greenhalgh era o candidato com menos aceitação entre os deputados aliados. "Avisamos que o Greenhalgh não tinha passagem na Casa", disse.

Assim como os demais líderes, Casagrande está certo de que o petista não foi eleito devido às insatisfações da base. "O governo tem dificuldades na relação com o Congresso. Além disso, ficou ajudando a inflar partidos com pessoas que não têm o menor compromisso com o projeto de governo."