Título: País garante liderança no juro real
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/02/2005, Economia, p. B4

Os últimos aumentos promovidos pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na taxa Selic (18,25% ao ano) garantiram a volta do Brasil ao topo do ranking dos maiores juros reais (taxa básica menos a inflação projetada para os próximos 12 meses) do mundo, de 11,8% ao ano. Se a expectativa do mercado for confirmada e o Copom elevar em mais 0,5 ponto porcentual a Selic na reunião que termina hoje, a taxa de juro real do País atingirá 12,3% ao ano, segundo levantamento da consultoria GRC Visão. Com isso, o Brasil ampliará a diferença para a Turquia, segunda colocada no ranking de maiores juros reais do mundo, com taxa de 7,5%, destaca o economista e gerente de produtos da GRC, Alexsandro Agostini Barbosa. Segundo ele, o efeito direto de índices tão altos é o desestímulo a investimentos futuros. "Resultado disso é o direcionamento dos recursos para o mercado financeiro, o que reduz a capacidade produtiva e prejudica a renda e o emprego do País."

No início do ano passado, depois dos consecutivos cortes que derrubaram a Selic para 16% ao ano, o juro real caiu para 10%. Com isso, o Brasil cedeu o título de campeão mundial dos juros reais para a Turquia. Mas, em seguida, com a retomada dos aumentos da taxa básica, voltou à liderança do ranking. Hoje o juro real brasileiro está muito distante dos demais países da América do Sul. O único que está entre os dez maiores índices é a Colômbia, com taxa anual de 2,2%.

Na avaliação do economista da GRC Visão, os últimos aumentos da Selic ainda não tiveram efeitos sobre o consumo. Com o crescimento robusto da economia desde o final de 2003, a melhoria da renda e o aumento dos níveis de empregos absorveram parte das elevações dos juros.

Além disso, completa ele, a expansão dos empréstimos com desconto em folha de pagamento - com juros bem inferiores aos de linhas tradicionais de crédito - contribuíram para neutralizar o efeito dos juros altos no consumo. "Mas o atual patamar da Selic tende a ser bastante prejudicial aos investimentos futuros", alerta Barbosa.

Para outros economistas, a política monetária do governo de elevar os juros para garantir o cumprimento da meta inflacionária, de 5,1% neste ano, é completamente equivocada. Segundo o diretor de MBA da Fundação Álvares Penteado (Faap), Tharcísio Bierrenbach de Souza Santos, os índices de inflação são pressionados pelos preços administrados, não pelo aumento da demanda.

Barbosa afirma também que a Turquia, segunda colocada no ranking dos juros reais, tem uma política muito mais eficiente que o Brasil. Conseguiu reduzir para 17,3% uma taxa de juros que em 2003 era de 43%. A inflação caiu de 30% para 9,3%, em dezembro. Com isso, os juros reais do país recuaram para 7,5%.

"No Brasil, a situação tem sido bem diferente. O que explica o baixo desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos dez anos, com crescimento médio anual de 2,5%, enquanto os demais países emergentes registraram taxas de crescimento acima de 3%."

Mas ele argumenta que é preciso ter um juro real saudável, com Selic e inflação baixas. Não adianta ter uma pequena taxa de juro real se o resultado é decorrente de inflação alta, argumenta ele. Um exemplo, segundo o levantamento da GRC Visão, é a Venezuela. O país tem a maior taxa nominal de juros, de 18,4% ao ano, mas o juro real é zero, efeito da inflação elevada. No caso da Argentina, cuja taxa básica é de 2,8% ao ano, os juros reais são negativos, 4,1% ao ano.

De acordo com o estudo da GRC, a média geral dos juros reais ficou em 1,1%; a média dos países desenvolvidos, 0,2%; e a dos emergentes, de 2,1%.