Título: Com 94 deputados, PMDB já supera PT na Câmara
Autor: Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2005, Nacional, p. A8

Após o intenso troca-troca partidário dos últimos dias, o PMDB tornou-se ontem a maior bancada da Câmara, com 94 deputados, superando a do PT, com 91. O inchaço, porém, não significa mais poder à legenda na distribuição dos cargos para as comissões técnicas, já que a data-limite foi estabelecida em14 de fevereiro, quando o PT ainda era majoritário. Das 20 comissões, o PT indicará presidentes em 4 e o PMDB, em 3. O principal objetivo do crescimento da legenda é o controle da bancada, motivo de mais uma briga entre as alas governista e de oposição ao governo.

Para não perder espaço no partido, o governo entrou em ação nos últimos dias, reforçando as trocas. O confronto se acirrou quando a ala de oposição ao Palácio do Planalto indicou Saraiva Felipe (MG) para líder, formalizado em uma lista com o apoio de 47 parlamentares, numa jogada para destituir José Borba (PR) do posto.

A iniciativa não teve efeito prático, já que Saraiva não assumiu de fato nem Borba foi despejado. Para evitar que o fato se consumasse, os governistas atuaram em duas frentes: alguns recuaram e retiraram as assinaturas da lista de Saraiva, que perdeu a maioria, e deflagraram uma nova rodada de adesões. Em menos de 24 horas, o PMDB passou a ter 94 deputados.

Para reagir ao contra-ataque, Saraiva pediu uma reunião da bancada na próxima quarta-feira para eleger o novo líder, em votação secreta. Se não houver acordo, os grupos vão continuar digladiando.

Em meio à confusão, o deputado Jader Barbalho (PA), da ala governista, começou a correr por fora, tentando sair como alternativa para a liderança. Mas toda a movimentação do ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e do senador José Sarney (PMDB-AP) é para reconduzir Borba, que tem atuado com lealdade à frente da bancada.

NOVO CENÁRIO

A queda de braço mexeu com o quadro partidário da Câmara, atingindo PP, PL, PTB e PSC. Já o PT segue praticamente igual, tendo filiado na segunda-feira somente Miro Teixeira (RJ). Conforme estratégia adotada desde o início do governo, o PT fica intacto e os demais aliados incham as suas bancadas - tática que, na avaliação de muitos políticos, contribuiu para a derrota do governo na eleição para a presidência da Câmara.

O troca-troca para inchar o PMDB foi desencadeado no início do mês pelas mãos do secretário de Governo do Rio, Anthony Garotinho. Os governistas reagiram. Resultado: nos últimos 15 dias, o PMDB recebeu 18 parlamentares. Alguns só passaram pela legenda e retornaram à origem. O maior malabarista foi o deputado Lino Rossi (MT). Ele saiu do PP para o PMDB no domingo. Devido às pressões do PP, ele retornou ao partido na segunda-feira. Na terça-feira, ele pediu licença do mandato para que a suplente Thaís Barbosa assumisse a vaga em favor do PMDB.

O presidente do partido, Michel Temer, encaminhou ontem ofício ao presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, pedindo que as filiações sejam oficializadas depois de a direção do PMDB confirmar se foram respeitadas as regras do estatuto. "As filiações têm se verificado apenas para efeito numérico, muitas vezes sem nenhuma ligação de natureza ideológica e programática."