Título: Um novo Chico Mendes, 16 anos depois?
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2005, Nacional, p. A10

Enquanto o corpo crivado de balas de Dorothy Stang era sepultado na terça-feira, ambientalistas e colegas da missionária assassinada oscilavam entre o frágil otimismo e ceticismo indignado sobre uma questão que eles esperavam nunca ter de considerar. O assassinato da freira americana, que dedicou a vida a combater grileiros e madeireiros na Amazônia, galvanizaria a ação e a opinião mundiais, como aconteceu depois da morte do lendário seringueiro Chico Mendes, há 16 anos? Funcionários e ativistas já fazem comparações entre Chico Mendes, um herói nacional, e Stang. A freira, de 73 anos, foi morta a tiros no sábado, nas selvas do norte do Brasil, uma região abalada por disputas de terra e pela crescente ilegalidade. Autoridades dizem que Stang, nascida em Ohio, foi morta numa emboscada por pistoleiros contratados por um fazendeiro local, do mesmo modo que Mendes foi assassinado por ordem de um rico proprietário de terras.

Tanto Stang quanto Mendes eram figuras queridas nas comunidades rurais onde organizaram os moradores pobres para enfrentar os poderosos interesses econômicos que ameaçavam seu meio de vida. Os ambientalistas dão crédito a Mendes por atrair atenção para a situação dos seringueiros e a destruição irresponsável da floresta. Sua morte provocou indignação internacional - assim como o assassinato de Stang, cuja figura amável, de cabelos grisalhos, ganhou os jornais ao redor do mundo e está sendo louvada como mártir da causa do desenvolvimento sustentável na Amazônia.

Alguns ativistas estão cautelosamente otimistas, afirmando que a tragédia criará pressão sobre o Brasil para que adote ações mais firmes numa região onde o governo fraco deixou um sangrento vazio de poder.

"Esperamos que o governo assuma uma posição contra os grandes fazendeiros, que mostraram como atuam", disse Tarcísio Feitosa, membro da Comissão Pastoral da Terra (CPT) da Igreja Católica no Pará, onde Stang trabalhava. "Foi um assassinato planejado e o governo precisa mostrar a essas máfias da terra como lidará com a situação."

Nas últimas semanas, madeireiros e fazendeiros do Pará aumentaram sua oposição a medidas de proteção ambiental, bloqueando estradas e rios e ameaçando fechar portos. Em resposta, o governo restaurou discretamente algumas licenças de extração suspensas.

Com o assassinato de Stang, no entanto, as autoridades têm ampla cobertura política para adotar uma postura mais rígida diante dos madeireiros e especuladores e promover a reforma agrária, dizem ambientalistas.