Título: Tropas chegam à área de conflito no Pará para reprimir grileiros
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2005, Nacional, p. A10

Tropas do Exército começaram a chegar ontem à região do conflito de terras onde foi assassinada a tiros, no sábado, a freira americana naturalizada brasileira Dorothy Stang. As Forças Armadas participarão, em conjunto com a Polícia Federal e as Polícias Militar e Civil do Pará, da caçada aos assassinos e de uma operação de desarmamento geral a ser desencadeada em dez municípios ao longo das rodovias Transamazônica e BR-163, a Cuiabá-Santarém, foco de violência pela posse da terra. Os militares darão também suporte às operações de expulsão de grileiros e restabelecimento da ordem pública nessa região, onde a ausência do Estado criou um ambiente de terra sem lei. À tarde, desembarcaram no aeroporto de Altamira os primeiros 140 homens, trazidos de Belém e Manaus em aviões Hércules e helicópteros da Força Aérea Brasileira. Eles foram alojados no 51.º Batalhão de Infantaria de Selva e entraram de prontidão, juntamente com os 600 militares permanentes da corporação. Trouxeram materiais de confronto e dispersão de motim, como escudos, capacetes com visor, cassetetes e armas, bombas de gás, além de cães de guerra, da raça rottweiler.

Ao todo, o Exército vai concentrar cerca de 2 mil homens na região central do Pará. Como não têm poder de polícia, as tropas dependem de um decreto ou ordem do presidente Lula para entrar em ação, segundo explicou o capitão Dimas Nascimento Barbosa, do 51.º BIS. "Ele é o comandante supremo das Forças Armadas e estamos pronto a cumprir a missão que nos for determinada."

Desde a morte da freira, mais três trabalhadores rurais foram assassinados a tiros, dois deles na região atendida pelas ações sociais da religiosa e sua congregação. O corpo de um deles, Cláudio Dantas Nunes, foi levado ontem de avião para Belém.

Para protestar contra a violência, cerca de cem manifestantes ligados a sindicatos rurais e ao Movimento dos Sem Terra (MST) invadiram ontem a sede do Incra em Altamira, paralisando o órgão.