Título: Homo sapiens fica 35 mil anos mais velho
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2005, Vida &, p. A13

Os seres humanos mais antigos acabam de ficar um pouco mais velhos - 35 mil anos, para ser mais preciso. Dois crânios de Homo sapiens, datados em 130 mil anos quando desenterrados da Formação Kibish, na Etiópia, em 1967, tiveram a idade posteriormente recalculada para 160 mil anos e, agora, para 195 mil, segundo as evidências geológicas mais recentes. O que faz deles os fósseis humanos mais antigos já descobertos. "Isso empurra para trás o surgimento dos seres humanos anatomicamente modernos", disse o geólogo Frank Brown, da Universidade de Utah, nos Estados Unidos. Ele é co-autor do estudo, publicado hoje na revista Nature, com Ian McDougal, da Universidade Nacional Australiana, e John Fleagle, da Universidade Stone Brook, também nos EUA. Na árvore genealógica humana, o homem moderno, ou Homo sapiens, seria a espécie vitoriosa dentre várias outras linhagens surgidas - e eventualmente extintas - após a separação de um ancestral comum com os chimpanzés, milhões de anos atrás.

Os crânios foram batizados de Omo 1 e Omo 2, em referência ao Rio Omo, que corta a região. Desde que foram descobertos, há quase 40 anos, havia dúvidas sobre sua datação e origem. O novo estudo, segundo os pesquisadores, confirma que ambos provêm de camadas sedimentares semelhantes, "apesar da opinião de que Omo 1 possui aparência mais moderna do que Omo 2". "Nossa estimativa preferencial de idade para os hominídeos de Kibish é de 195 5 mil anos (de 190 mil a 200 mil), o que faz deles os mais antigos humanos anatomicamente modernos já descritos e bem datados", escrevem os cientistas, com base em análises da poeira vulcânica do local.

Até agora, a data mais citada pelos especialistas para o surgimento do Homo sapiens ficava na casa dos 160 mil anos. A nova datação reforça ainda mais a tese de que os humanos modernos surgiram primeiro na África e depois migraram para povoar o resto do planeta. Além disso, sugere que o Homo sapiens e seu precursor chegaram a viver lado a lado por algum tempo.

"As datas do registro fóssil concordam quase exatamente com as datas sugeridas pelo estudo genético da origem de nossa espécie", disse Fleagle. Pelos estudos de DNA, o homem teria se estabelecido como espécie 200 mil anos atrás. "Também põe a primeira aparição do Homo sapiens moderno na África muitos milhares de anos antes do aparecimento da espécie em qualquer outro continente."

Outra sugestão do estudo é de que a anatomia moderna surgiu muito antes de qualquer comportamento que poderia ser reconhecido como humano. Se as características físicas do Homo sapiens - incluindo tamanho do cérebro - surgiram 195 mil anos atrás, as primeiras evidências de comportamento moderno só aparecem no registro fóssil entre 70 mil e 50 mil anos atrás.

"Isso significaria 150 mil anos de Homo sapiens sem conteúdo cultural, como evidências de consumo de peixes, arpões, qualquer coisa relacionada a música ou mesmo ferramentas", afirmou Brown.