Título: Para Casa Branca, pacto entre sírios e iranianos resulta de um engano
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2005, Internacional, p. A17

O governo do presidente George W. Bush respondeu ontem ao pacto sírio-iraniano (ler ao lado) dizendo que ele é fruto de um engano. "Trata-se de uma leitura fundamentalmente errada dos temas em questão, porque o problema deles ( da Síria e do Irã) não é com os Estados Unidos", disse o porta-voz da Casa Branca, Scott McClelland. "A Síria e o Irã têm obrigações internacionais e precisam respeitar os compromissos que assumiram com a comunidade internacional", acrescentou ele, referindo-se à retirada dos 15 mil soldados sírios mantidos no Líbano há duas décadas e à alegada violação, pelo Irã, de suas obrigações sob o Tratado de Não Proliferação Nucelar. Na terça-feira, Washington chamou de volta seu embaixador em Damasco, num gesto de protesto implícito pela suposta participação da Síria no atentado a bomba, em Beirute, na segunda-feira, que matou o ex-primeiro ministro libanês Rafic Hariri.

Altos funcionários americanos confirmaram ontem que o governo está considerando impor sanções à Síria por causa de sua recusa em retirar suas tropas do Líbano.

Paralelamente, o diretor da CIA, Porter Goss, acusou o Irã de estar apoiando algumas atividades contra a coalizão (de forças anglo-americanas) no Iraque. Em depoimento ao Senado, Goss disse que Teerã está desenvolvendo mísseis de longo alcance ao mesmo tempo que se recusa a abandonar seus planos para enriquecer urânio. Washington aponta para a abundância de petróleo no país para impugnar o argumento iraniano de que quer desenvolver capacidade nuclear para produzir energia elétrica.

NEGOCIAÇÕES

Em depoimento separado ao Senado, a secretária de Estado, Condoleezza Rice disse que acompanha com interesse as conversas que Inglaterra, França e Alemanha vêm tendo com Teerã sobre a questão nuclear, mas reiterou que Washington não tem intenção de participar. "O Irã já sabe o que precisa fazer", afirmou. Em discurso no Congresso, no mês passado, o presidente George W. Bush voltou a acusar o Irã de ser "o principal Estado patrocinador do terrorismo".

APREENSÃO NO MERCADO

Ainda ontem, Washington negou todo envolvimento com uma explosão ocorrida ontem perto de uma usina nuclear no sul do Irã, que a imprensa oficial de Teerã atribuiu inicialmente a um ataque aéreo.

Primeiro, o porta-voz Scott McClelland afirmou ser "correta" a informação de que Washington nada tinha a ver com o episódio. Poucas horas mais tarde, quando as autoridades iranianas já haviam informado que a explosão era parte dos trabalhos de construção de uma barragem, Goss, o diretor da CIA, disse que desconhecia o assunto. "Não tenho nenhuma idéia se isso é verdade ou não", afirmou no depoimento ao Senado.

A apreensão provocada pela notícia de um possível bombardeio dentro da república islâmica, que chegou a mexer com o mercado de capitais e de petróleo, foi estimulada por dois fatos: por um lado, o anúncio feito pela manhã pelos governos do Irã e Síria, ambos na alça de mira de Washington, sobre sua intenção de formar uma frente comum para enfrentar juntos "desafios e ameaças" - uma óbvia alusão à administração Bush. Por outro, a denúncia feita pela autoridades iranianas da invasão do espaço aéreo de seu país por aviões-espiões não tripulados em áreas nas quais o Irã desenvolve seus projetos nucleares.