Título: Irã e Síria se unem contra pressões
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2005, Internacional, p. A17

Irã e Síria estão dispostos a cooperar para enfrentar juntos os "desafios e ameaças" lançados pelos EUA, anunciou ontem o vice-presidente iraniano, Mohammed Reza Aref, depois de se reunir com o primeiro-ministro sírio, Naji al-Otari, em Teerã. Mais tarde, no entanto, autoridades de Teerã e Damasco negaram que se tratasse de uma aliança de natureza militar. A reunião entre Aref e Al-Otari foi marcada pelo clima de tensão que se propagou no Oriente Médio depois do assassinato, na segunda-feira, do ex-primeiro-ministro libanês Rafic Hariri - num atentado atribuído pelos seguidores do líder político aos serviços secretos sírios (ler na página A18).

"Estamos preparados para ajudar a Síria em todos os campos para fazer frente às ameaças", ressaltou Aref. "Nossos irmãos sírios enfrentam ameaças específicas, e nosso desejo é que possam se beneficiar de nossa experiência. Estamos prontos para oferecer toda a ajuda de que precisarem", acrescentou.

Al-Otari disse, por sua vez, que a reunião, mantida em um momento muito delicado - já que Irã e Síria parecem cada vez mais na alça de mira dos EUA -, tinha sido "muito proveitosa".

Fontes oficiais sírias, em Damasco, e iranianas, em Teerã, negaram mais tarde que tais declarações signifiquem o estabelecimento de uma "aliança estratégica". "Não estou sabendo de nenhuma frente a ser formada entre o Irã e a Síria. De onde saiu isso?", perguntou o ministro de Relações Exteriores do Irã, Kamal Kharrazi, ao ser indagado sobre a natureza das futuras relações com Damasco. "É certo que o Irã e a Síria têm interesses comuns, mas isso não significa que será formada uma frente comum contra ninguém. Os problemas são solucionados através do diálogo, entre todos", acrescentou o ministro.

Os EUA e Israel acusam o Irã de esconder um programa nuclear destinado à aquisição de armamento não convencional. E a Síria, de ser um dos países que mais promovem o terrorismo internacional.

O ministro de Relações Exteriores de Israel, Silvan Shalom, advertiu ontem que o Irã terá em seis meses o know-how necessário para a construção de uma bomba atômica. "A questão não é mais saber se os iranianos vão desenvolver uma bomba nuclear em 2009, 2010 ou 2011. Acreditamos que em seis meses eles terão terminado todas as provas e experiências para que possam obter esse conhecimento", declarou Shalom.

As declarações do ministro israelense contradizem a as do diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Mohamed el-Baradei, para quem não há provas de que o Irã esteja se dotando de armas nucleares.