Título: BC aumenta juros e indica nova alta
Autor: Priscilla Murphy
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2005, Economia, p. B1

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) aumentou os juros básicos ontem pela sexta vez consecutiva, para 18,75% ao ano. Ao anunciar a decisão unânime de elevar a taxa Selic em 0,5 ponto porcentual, o comitê repetiu a mesma explicação dada nos últimos quatro aumentos, de que está "dando prosseguimento ao processo de ajuste da taxa básica de juros, iniciado em setembro de 2004". Este é o mais longo processo de aperto monetário desde 1999, quando foi implantado o regime de metas de inflação. Além disso, das seis elevações de juros, cinco foram de meio ponto. Com o aumento de ontem, a Selic passa para o maior nível desde a reunião de outubro de 2003.

A repetição do comentário reforça a expectativa generalizada do mercado de que haverá ainda pelo menos mais um aumento dos juros no mês que vem, de 0,25 ou 0,5 ponto porcentual.

Apesar de o índice oficial de inflação (IPCA) ter caído de 0,60% em dezembro para 0,58% em janeiro, ele continua acima da média mensal necessária para o cumprimento da meta de inflação para este ano, de 5,1%. E a expectativa do mercado ainda está em 5,74%.

"Para chegar a essa meta, a inflação teria de ter uma média mensal de 0,42% e já começamos o ano com 0,58%, depois de uma média de 6,1% no ano passado", diz o sócio da MS Consult, Jorge Simino.

Para Simino, o BC deveria admitir a existência de uma "inércia inflacionária" maior do que percebia antes e ainda mirar algum ponto entre o centro e o limite máximo da meta de inflação, uma banda de variação de 2,5 ponto porcentual. "Associando essas duas medidas, poderia ter evitado o aumento de ontem da Selic". observa ele.

Os que defendem o aumento da meta argumentam que o BC armou uma armadilha para si mesmo ao estabelecer o alvo de 5,1% para este ano. Isso porque o reajuste dos preços administrados já garante quase metade desse aumento de preços.

O BC estaria então usando uma política monetária drástica para fazer a inflação de demanda, causada pela recuperação da economia, caber num espaço de cerca de 3 pontos porcentuais.

Para alguns analistas, parte do conservadorismo do BC deve-se ao fato de que a autoridade monetária está se deparando com muitos elementos novos na política monetária. Pela primeira vez nos últimos 20 anos, por exemplo, o BC tenta evitar uma inflação de demanda causada por uma leve recuperação na renda e no mercado de trabalho.

Na verdade, quase todos os aumentos da taxa de juros nos últimos anos foram reações aos efeitos de choques cambiais nos preços domésticos.

Agora, pelo contrário, o dólar vem despencando e tende a cair ainda mais conforme os juros brasileiros aumentam, porque eles estimulam a entrada de capitais especulativos. "Com a alta de ontem, mantemos os maiores juros reais entre os 217 países do mundo, de 12,3%", diz o professor da Brazilian Business School Alfredo Reis. "Mas o índice de inadimplência do Brasil não é o maior do mundo, há países em situação muito pior. Então existe uma incompatibilidade."

O governo alega que a economia continua crescendo, apesar dos aumentos de juros, o que prova que a política monetária está correta. "Mas há um limite", diz o professor Rodrigo Rivera, da BBS.

"A gente tem de tirar o chapéu para a capacidade dos empresários de continuar exportando mesmo com o câmbio em baixa e os juros altos. Ainda há demanda internacional que nos permite continuar competitivos, mas isso pode se reverter", comenta Rivera.