Título: Indústria volta a atacar decisão do BC
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2005, Economia, p. B4

A nova alta da taxa básica de juros ( de 18,25% para 18,75% ao ano) foi duramente atacada por empresários do setor produtivo e sindicalistas, como vem ocorrendo desde setembro, quando o Banco Central reiniciou a escalada da Selic. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) alertou que o aperto da política monetária afetará o crescimento econômico do País. "Se a decisão de elevar as taxas se estender para o segundo trimestre, a atividade e o ritmo de crescimento ficarão comprometidos. A demanda pode esfriar, frustrando as expectativas de quem está investindo", disse o presidente da entidade, Armando Monteiro Neto.

Para ele, estão sendo impostos sacrifícios demais à sociedade brasileira. "A nova alta dos juros ultrapassa os limites do sustentável. A cada nova reunião do Copom fica mais evidente que é tempo de se utilizarem outros instrumentos de política econômica, como a redução dos gastos públicos, no combate à inflação", afirmou.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, criticou a falta de sensibilidade do Copom, "ao estabelecer novo aumento da Selic no exato instante em que o todo o empresariado e representantes da sociedade civil mobilizam-se contra o golpe tributário representado pela Medida Provisória 232". Skaf lembrou que juros altos e tributos crescentes _ desestimulam o empresariado e podem comprometer o crescimento da economia e a criação de empregos.

Cláudio Vaz, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), observou que elevação dos juros causa uma grande indignação. "O Brasil está num momento positivo mas essa taxa de juros quebra qualquer crescimento. Daqui a dois ou três meses estaremos neste mesmo lugar dizendo que o crescimento do Brasil parou". E criticou: "Isso os trabalhadores sabem muito melhor do que quem está no ar refrigerado de Brasília".

Boris Tabacof, diretor do Departamento de Economia ds entidade, lembrou que a mesma política que pune a indústria é ineficaz para o controle dos preços monitorados, que respondem por 30% da inflação. "O desequilíbrio entre a demanda em crescimento e a capacidade produtiva potencial, tão temido pelo Copom, só pode ser corrigido com uma política de fomento aos investimentos".

O diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Sérgio Gomes de Almeida, ressaltou que o aumento dos juros afeta mais o setor público que o privado. "As empresas e os consumidores têm como driblar esses aumentos, mas o setor público recebe uma conta salgada na hora de pagar os juros de sua dívida. Esta nova alta de 0,5 ponto porcentual representa um acréscimo de R$ 1 bilhão nas despesas anuais com o serviço da dívida".

Já o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Luiz Marinho, disse que não é mais possível apenas reclamar da política de juros conservadora adotada pelo Copom. Para ele, está na hora de mudar as bases que sustentam esta política, ou seja, o Conselho Monetário Nacional (CMN).

Marinho disse que convidará entidades empresariais, centrais sindicais e representantes do mundo acadêmico para lançar uma campanha pela mudança na composição do CMN. "Sua ampliação é a única maneira de tornar efetiva mudanças na política de juros e permitir que o País adote um novo rumo para garantir o seu desenvolvimento", disse o sindicalista, acrescentando que a CUT organizará reunião para detalhar o lançamento desta campanha em 15 dias.

O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, também criticou a alta dos juros. Para ele, o governo ajuda aos especuladores e pune a produção e o emprego no país. "É justo afirmar que essa decisão do Copom compromete toda expectativa de crescimento no primeiro semestre deste ano".