Título: Petrobrás quer vender térmicas no leilão de junho
Autor: Nicola P
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2005, Economia, p. B7

A Petrobrás quer aproveitar o leilão de energia nova que será realizado pelo governo em junho para desencalhar suas térmicas. A estatal apresentou proposta para vender mais de 3 mil MW no leilão - cerca de 30% do total de 10,9 mil ofertados - gerados por usinas que não dão retorno por causa do excesso de oferta de energia no País. O leilão é visto como tábua de salvação também para parceiros da estatal em térmicas sob litígio, como El Paso e MPX, e para os investidores em usinas emergencias, cujos contratos com o governo estão chegando ao fim. As 48 empresas habilitadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a participar do leilão apresentaram projetos já em andamento, mas sem mercado definido. São as chamadas "usinas botox", projetos que entraram em operação depois de 2000 mas sem contrato de venda de energia até 16 de março do ano passado. O leilão, considerado o principal teste para o novo modelo do setor elétrico - já que vai definir novos níveis para o preço da energia no Brasil - garante aos vencedores contratos de longo prazo com as distribuidoras a partir de 2009.

"As térmicas foram projetadas para ter utilidade e, por isso, estamos nos preparando para participar do leilão", disse o diretor de Gás e Energia da Petrobrás, Ildo Sauer. Na época do racionamento, a estatal recebeu a determinação do governo para contribuir na expansão do parque gerador de energia e acabou se tornando um dos maiores investidores do setor elétrico brasileiro. Com a redução no consumo e o aumento das chuvas, porém, a empresa passou a ter prejuízo neste setor, já que não havia mercado para sua produção. Nos nove primeiros meses do ano passado, por exemplo, a área de energia da estatal teve perdas de R$ 22 milhões.

O valor é pequeno, comparado com o prejuízo de R$ 804 milhões no mesmo período do ano anterior, e já reflete um esforço da área comandada por Sauer para vender a energia das térmicas. Segundo ele, há hoje contratos para a venda de 1,5 mil MW das usinas já em operação. O principal desafio, porém, é encontrar mercado para as usinas novas, como a Termorio, maior térmica do País, com capacidade superior a 1 mil MW. A usina está incluída, ao lado de Ibirité, Três Lagoas, Eletrobolt e Canoas, entre outras, na lista que a estatal habilitou para o leilão.

El Paso e MPX, empresas com quem a empresa está em litígio por causa dos projetos Macaé Merchant e Termoceará, respectivamente, também ofertaram energia das térmicas no leilão. Sauer informou que, agora, a equipe técnica de sua área estuda como fazer para tornar as usinas competitivas em relação aos projetos hidrelétricos habilitados, já que o governo vai contratar as usinas com as menores tarifas. Há cerca de 3,5 mil MW de usinas hidrelétricas, teoricamente mais baratas, habilitados para o leilão. Alguns empreendimentos, como a Usina de Estreito, no Rio Tocantins, ainda não têm licença ambiental.