Título: Em Caracas, Lula só fala de negócios
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/02/2005, Nacional, p. A6

No seu programa de rádio "Aló, Presidente", de todos os domingos, o presidente venezuelano Hugo Chávez informou ontem, satisfeito, que assinará com seu colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, nada menos de 20 documentos - e mencionou todos os temas a serem tratados nos encontros que os dois terão ao longo do dia de hoje, em Caracas. "É uma aliança estratégica", definiu Chávez, ao citar em especial a possível compra de aviões Supertucanos. "O país deve saber", explicou aos ouvintes, "que o governo dos Estados Unidos está retardando o fornecimento de peças de reposição dos aviões (os caça-bombardeiros F-16, adquiridos na década de 80) e o país, pouco a pouco, está diminuindo sua capacidade operacional". "Venezuela se veste de gala para receber esse bom companheiro", disse por fim. Pouco depois, o presidente brasileiro decolava de Brasília no novo avião presidencial, o Airbus A-319, levando uma agenda cuidadosamente organizada para evitar excesso de reuniões, visitas ou discursos. Da parte brasileira, o interesse é ampliar os investimentos na Venezuela e a construção, neste país, de obras de infra-estrutura, agrícolas e de irrigação.

Lula se fez acompanhar por oito ministros, entre os quais o de Relações Exteriores, Celso Amorim, da Fazenda, Antônio Palocci, do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, e de Minas e Energia, Dilma Roussef. Trouxe também os presidentes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, da Petrobrás, José Eduardo Dutra, e da Eletrobrás, Silas Rondeau Cavalcante Silva.

Serão apenas 21 horas de visita, e o melhor é não desperdiçar energias. Desde sua posse, em 1º. de janeiro de 2003, Lula conversou reservadamente com o colega venezuelano oito vezes. Mas esteve ao lado de Chávez em pelo menos oito reuniões multilaterais e posses presidenciais. Na reunião de cúpula do Mercosul em Ouro Preto, em dezembro passado, o anfitrião brasileiro solicitou aos líderes presentes que fossem sucintos em suas exposições. Ao tomar a palavra, Chávez rebateu que estava ciente de que a orientação de Lula fora dirigida a ele próprio - e discursou por mais de uma hora, mesmo percebendo a expressão insatisfeita do companheiro.

Pelo menos sete projetos serão assinados durante a visita. Está prevista a intensificação da parceria Petrobrás-Petroleos de Venezuela SA (PDVSA) para a exploração conjunta na Venezuela; a construção de uma refinaria binacional no Brasil e ações em terceiros países; criação de uma companhia binacional para a exploração de reservas de carvão de Socuy, na Venezuela, com a participação da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e da Corpozulia.

Em pauta, estão ainda um acordo sobre bitributação de pessoas físicas e jurídicas que atuam nos dois países e um possível contrato de venda de aviões Tucano da Embraer à Força Aérea Venezuelana. Outro acordo prevê liberação de recursos do BNDES para a construção da linha 3 do Metrô de Caracas.