Título: Pauta de exportação do País é pobre
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/02/2005, Economia, p. B3

O aumento das exportações nos últimos dois anos trouxe um equilíbrio maior às contas externas do País, porém pôs um desafio para que o Brasil se consolide como um dos maiores participantes do comércio internacional. Dos US$ 96,5 bilhões exportados em 2004, 78% foram gerados pela venda de produtos de baixa ou média baixa intensidade tecnológica, segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Trata-se de um índice muito elevado em relação ao padrão de países como México, Coréia e China, cujas exportações de produtos de baixo conteúdo tecnológico respondem, respectivamente, por 40%, 48% e 63% das vendas externas. O baixo índice de tecnologia das exportações brasileiras é muito superior também à média mundial, de 56%. "O problema é que normalmente esse tipo de produto é de baixo valor agregado e, numa trajetória de médio e longo prazo, tende a ser menos valorizado no comércio mundial", diz Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi. "Temos pela frente o desafio de diversificar a nossa pauta de exportações, agregando mais valor ao produto brasileiro."

A classificação de baixa e média baixa intensidade usada pelo Iedi é da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Nessa categoria incluem-se commodities, alimentos, têxtil e vestuário, entre outros.

Do aumento de US$ 23,4 bilhões das exportações brasileiras em 2004 (passaram de US$ 73,1 bilhões, em 2003, para US$ 96,5 bilhões), só 22,1% vieram de produtos de alta e média alta tecnologia, como aviões, químicos, automóveis, bens de capital e telecomunicações, entre outros.

Além do baixo conteúdo tecnológico, o aumento nas exportações veio de produtos que perderam importância no comércio mundial nos últimos anos. Segundo o Iedi, 77,7% do acréscimo nas vendas externas resultaram de itens que perderam mercado entre 1996 e 2001, caso dos produtos agrícolas, cujos preços oscilam muito. No ano passado, as cotações das commodities agrícolas tiveram uma alta média de 18,4%, o que combinado com o aumento da demanda por produtos como a soja, beneficiou o salto das exportações de grandes produtores como o Brasil.

"Convém observar, porém, que para vários produtos primários, a soja inclusive, já se apresenta uma tendência de declínio de preços internacionais", pondera Almeida.

O diretor do Iedi faz questão de ressaltar que o esforço para aumentar o conteúdo tecnológico das exportações brasileiras não implica em abrir mão das vendas externas de commodities, setor em que o País é altamente competitivo e tem garantido excelentes resultados. "Não podemos nos dar o luxo de deixar de dar ênfase à exportação de nenhum produto."

Um modo de obter isso seria incentivar setores de maior conteúdo tecnológico por meio de políticas que favoreçam a relação entre universidades e empresas, visando ao desenvolvimento de tecnologias e ao aumento dos investimentos em capital humano e pesquisa e desenvolvimento. Almeida observa que a política industrial do governo Lula elegeu quatro setores (software, componentes eletrônicos, bens de capital e fármacos) para melhorar esse quadro. "Mas os planos precisam sair do papel."